quarta-feira, 15 de agosto de 2018


Rabisquei, apaguei, redigi, revisei, gritei o mais alto que pude.
Avisei os vizinhos, os que cruzavam meu caminho.
Liguei pra policia, anotei nos cardápios, rabisquei nos muros,
Berrei entres os bares.
Anunciei nas praças, igrejas,
Subi escadas, andares.
Invadi escritórios,
Vasculhei gavetas,
Fiz do certo errado.
Do acerto bocado.
E tentava escrever-te.
Processo dificílimo que insitia.
Repetição, processo.
Guardo uma enciclopédia no peito,
Só tua.
Como enfrentar pouquíssimas palavras diante um mar?
Como sintetizá-las?
Adequa-las pequenas, lindas.
Adoro lembrar de ti e escrever.
Mas com poesia?
Não conseguiria, tenho tanto a dizer.
No amor é assim:
“Eu te amo”e frenesi an passant.
Passa, bonito.
Contigo não.
Contigo é tão fundo.
Contigo a alma voa além, além.
Digo com essa minha existência: 
Voce existir é tão bom!
Tão, tão.
Tão.
Só de escrever "tão" lembrando de ti, dá um aperto aqui.
Juro que que penso em lhe escrever com cuidado, poeticamente.
Ajustar a rima aqui, dar tom à frases de efeito. Tornar em regra.
A regra poética traz beleza.
Mas não!
Não consigo sequer uma carta aberta.
Uma carta pro mundo.
Pra que saibam de ti.
Porque eu sei.
E foi duro, de verdade.
És demais pra um pequeno texto.
Brilhas tanto e orgulho-me tanto.
Tão.

Iria demorar 20 anos pra lhe dar parabéns antecipadamente
Em todos aniversários que tiver.
Escrever-te é presente de mão dupla.
Primeiro porque lembrar de ti é maravilha.
E poetizar, criando imagens em mim de ti, é trazer-te pro meu peito, pra pertinho.

Iria durar uma eternidade para arrancar uma pequena parte que insiste em lhe escrever.
Juro de joelhos

Gostaria de rabiscar minha alma para lhe mostrar minha admiração e o que sinto.

Um beijo antecipado,

De seu amigo afobado.

Te amo

(Leonardo Schneider)

terça-feira, 14 de agosto de 2018


Não entender, nada ruminar.
Não querer resistir,
Instantes e só.
Só.
Não matematizar,
Nem empíricamente cuspir.
Reconhecer.
Apenas recomeçar no nada.
Reinventar,
Encompridar,
Elástico tu, eu.
Indo, vindo.
Rever.
Lançar-se à miúde,
No colher-se.
No que não é controlável e riscado. 
No breu.
Do lápis, a borracha.
Da tinta, o branco.
Da tela o reesticar,
O nada.
Na brancura que cega.
Conteúdo destrutivo.
Recomeçar, repensar
A madrugada.
O amor e a sensatez que não diz muito.
O que de fato vem do fundo.
O que de fato sonhas,
Nossa verdade simulacro,
Nossa existência que é rastro.

(Leonardo Schneider)





quinta-feira, 19 de abril de 2018


Gaivotas que não estão
Subterfúgio dessas minhas palmas postas
Esse vento maresia roçando
Esse teu amarelo biquíni
No meu apartamento
As ondas sentenciam
O coqueiro é espectro
Tem a sombra
A cocada o vão
Tenho sol mais que exposto
Queimando
Minha janela
Corpos vis
Nas espumas
Nas pegadas deixadas
Lavadas
Tenho o mar maior que um olho


(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 5 de abril de 2018


Adoro quando vem o total silêncio.
Quase mal consigo sussurrar palavras num texto.
É madrugada.
Não qualquer madrugada.
Tem um “quê” de seriedade na noite de hoje.
Hoje sendo amanha,
Ao mesmo tempo o agora enquanto escrevo
E meio termo entre o peso do mundo de ontem
Aventurando-se na esperança do que virá,
Sinto-me oníricamente ciente.
Atentamente sonâmbulo.
Apenas escrevo.
Trêmulo ao segurar a caneta,
Honesto em minha verdade.
Escrever é perder-se,
Sonhar.
Tenho medo de esquecer-me,
De apenas dormir.
Apenas dormir.

(Leonardo Schneider)

E tudo recomeça.
Na morte não.
Vivos nos vem os tais
Corpos maciços, rijos.
O tesão, húmido,
Em ti, em mim.
No mundo.
A somatória dos sexos.
Rodopio de uma vida.
Eixo de ti,
Um eterno círculo sobre si.
Um giz redesenhado.
Refeito no mundo,
Um passo.
Um
Mil.

(Leonardo Schneider)




quarta-feira, 4 de abril de 2018



Tem um dragão aqui dentro.
Ele deseja os mesmos anseios,
Velhos.
Futuca, refuça, fraciona-se.
Vomita silenciados trajetos, entulhos.
O fogo, azia, o fogo.
Seu corpo e alma são antagônicos.
É guerra, sendo medo.
Paz sendo açoite.
Longe vai com seus raros ovos,
Sem rota, nem pouso.
Machuca-se, eu sei.
Ele esta aqui.
Asa quebrada, bafo fumaça.
Ele é frágil de perto.
Chora no colo, silencia.
Sabe dos caminhos, das coisas.
Às vezes me tira o sono, alimenta-se de mim.
Joga-me acolá e aqui.
No não e no sim.
Escolhe camisas, as cores do dia.
As cuecas e calças.
Remexe meus armários,
Meus amores.
O dragão é tudo que eu tenho.
É o meu texto, minha boca.
O que restou desses anos.
Segue destruindo, aniquilando.
Rascunhando à caneta.
Já chorei muito por tudo isso.
Hoje entendo quão frágil é o dragão.
Hoje vejo e sinto o quão ele me é fiel e indispensável.

(Leonardo Schneider)


sábado, 31 de março de 2018




Sim, seu tempo não é o meu.
Nosso tempo muitas vezes é lindo.
Sim, sinto-me feliz em
Seu tempo não sendo meu.
Nosso tempo permanece-me eternamente lindo.
Assim sendo, o teu e o meu tempo não é nosso, definitivamente.
O meu e o seu tempo não é nada, por questão.
Não é meu
O seu tempo, sim
Seu.
Mas qual variável de tempo nos pertence?
Qual curva/ esquina cruzamo-nos no tempo?
Qual nosso conjunto de tempo?
No cruel tempo de espera que julgamos
Teu e meu,
Imaginativos portos de espera,
Desembarques, inclinações, retas, 
Frágeis e aconchegantes cafeterias que esperam.
Assim como qualquer tempo frágil
Depois de um tempo,
Tudo acomoda aceitando.
Finge, vê, entrega e deita.
Descobre no ensaio tua mais clínica e observada beleza
E te aceita como és
Ou podes escolher se bem quer o que antagoniza, o que enfeia,
O que não quer.
Quero.
Rezo sério.
Embora ofuscante em tua vista
E eu sem óculos.
Nesses nossos míopes caminhos,
Sigo te amando porque buscas.
Só porque buscas.
Isso soa-me inteiro.

(Leonardo Schneider)

sexta-feira, 16 de março de 2018


Lembrei de teus olhos,
Tua pálpebra marrom em semi tom com tua vista.
Ambíguo olho estrábico, no peixe, no gato.
Animal objetivo, reto.
Lembrei de teu peito e gestos,
Tua paz, teu inferno.
Lembrei que sangras como qualquer um,
Embora nunca tenha te visto chorar.
Que entrega, a preços bem estabelecidos, o corpo.
Que és senhor de si, rei de teu dentro.
Ou não.
Talvez sim.
Assim penso e pinto-te em mim.
Sei que tens um segredo valioso na alma
Tentando a todo custo compartilhar.
Eu sei.
Tu sabes o que tens,
O baú que descobriste.
Vejo-te daqui.
Vejo-me de ti.
A leve dança da folha morta.
Pesada ao cair, na mais pura entrega.
Daqui descobri diferentemente,
Vasculhando só meus empoeirados desertos.
Não pude compartilhar,
Nada dizer.
Somente quis e tenho bolado há algum tempo,
Rudes e inexpressivas palavras.
É saudade.
É saudade.

(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018


É sempre engraçado.
A gente fica irrequieto de vez em quando.
Salta, sai, vê meio mundo.
Dá risada, abraços, se embebeda de taças,
Das conversas preenchendo buracos,
Carinhos, afagos.
Volta, rodopia na cama.
Inventa uma porção de coisas
No travesseiro dos planos, do amanhã.
Reinventa.
No amanhã há o rio.
Que vai, apenas vamos.
E ninguém sabe ao certo se é margem ou centro,
Onde se agarrar.
Por fim,
Ah! Por fim tudo aquilo no peito.
O mar e o vento a chacoalhar a alma de uns.
A cama febril e redentora a sossegar os sonhos dos outros.

(Leonardo Schneider)

sábado, 17 de fevereiro de 2018


Hoje doeu mais que tudo,
Chorei,
Desisti.
Hoje meu corpo cedera,
Arrebentara no centro,
Numa abrupta envergadura,
O maior dos limites.
Hoje fora o pior dos piores.
A sombra, o adeus, o dia de cão.
Hoje fora teu corpo, meu corpo.
Estranhos, discretos,
Vazios e ecos ocos,
O universo as avessas no tempo,
Na mais pura verdade do não.
Fora hoje.

(Leonardo Schneider)



quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018


Vou caindo.
Juntando os minúsculos pedaços,
Feito cacos.
Espatifaria lançada ao mundo.
A cada instante, pedaço a pedaço,
Estilhaços,
Tudo é jogado.
Meu eu, tudo de mim.
E eu não sei se é o mar,
Se o ar.
Agarro-me.
Arranco os cabelos.
Tudo reside aqui
E se esvai entre os meus dedos.
Espalha-se.
A vida ávida abrange, ataca.
Seu tempo,
Tudo.
Nosso ir e vir,
Não estou só.
O que sinto,
Sinto por ti.

(L3on4rd0 5Cnh31d3r)


Ser ladrão.
O ladrão de outrora aguardava pacientemente.
Analisava, estudava o variante vacilar,
O trôpego passo,
O medo.
Eu não.
Sou ladrão assaltado.
Se sorrir,
Eu roubo,
Mato,
Morro.
O que pego eu deixo,
Eis minha marca.
Morro,
Mas roubo.
Assim me fiz,
Sempre na risca, no triz.
Deixo.
Se a campainha tocar,
Não serei eu.
Se a janela bater,
Não serei eu.
Sou explicitamente ridículo.
Pego, levo,
Amo e sofro.
Queimo, sofro,
Amo e deixo.

(Leonardo Schneider)

domingo, 4 de fevereiro de 2018


Achei uma foto nossa.
Grande.
Nem esperava pelo tamanho que era,
Mas achei.
Nela você me olhava cara a cara.
Um fino vão de tempo e vento separava nossos lábios.
Eu fitava seu nariz, sei lá.
Talvez tua fronte, tua boca.
Você fitava o que o diabo quisera.
Eu cruzava as pernas numa calça amarela,
New shoes.
Você de branco, roliças pernas expostas.
Eu amava.
Você também.
Aquela foto era preciso remexer pra achar.
Nada fácil,
O tempo escaramuçava.
Fundo de baú.
Juro não querer ter visto, mas vi.
Pura malícia.
Tinha escondido pra mentir.
Eu sei.
Mentir para mim.
Achar quando quisera.
A hora que quisera.
Deleite, fingir.
Fingir que você nunca esteve lá.
Mas não.
Voce reside aqui.
Eu eu me mato de escrever.
Voce veio com aquele tempo.
Hoje aquele fino vão entre bocas não existe.
Daquele jeito,
Somente no meu peito.

(Leonardo Schneider)

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018


Comer papel é ato digno.
Quando não dá,
Quando tudo quanto pensas e escreves é autofágico,
Eu juro,
Eu como.
Um dia quis comer o mundo.
Quis comer o que brotava nas cabeças e nas vistas.
Quis comer o que mexia e não mexia.
O que estava vivo ou sem vida.
O que era multicolor ou cinza,
Quis comer.
Aí veio o amor.
O devorar contínuo uniforme.
E ainda hoje nem sei se é certo ou estúpido
Essa coisa da boca.
Não toco nesse assunto, nunca.
E se me encontrares na rua, não fale sobre isso.
Porque comer pensamentos e olhares é coisa muito séria.
A gente quase não dorme direito.
E escreve cedo, de tarde ou de madrugada.
Rasga papéis, faz bolinhas, amontoa o lixo.
Come o que vem de fora.
Principalmente o que vem de dentro.

(Leonardo Schneider)


Você.
Sim, você que acendeu o interruptor nesse instante.
Chegou, acendeu.
Eu vi,
Vi você.
Daqui do outro lado da cidade,
Eu vi.
Agora a faca de fatiar o tempo,
No pão.
Aquela faca de serrinha.
De fatiar na mesa ou na pia mesmo.
No prato.
Manteiga, presunto, muçarela,
Televisão.
Banho.
O sofá, a cama.
Sim você mesmo.
Te vejo da minha janela.
E agora?
Agora o semicerrar dos olhos.
Estou falando de você!
Acorde!
É de você que eu estou falando.
Não tem problema.
Durma, minha querida.
Mas tenha vida,
Tenha vida.

(Leonardo Schneider)

domingo, 28 de janeiro de 2018


De fato perdi a linha.
Nada escrevo dos meus “eus” e sobre eles.
Sobre tantos que um dia eu fui e jamais tornarei.
Dos que apenas deixei ir,
Deixei que passassem.
Dos que fui por um segundo, sendo o mundo,
Tudo.
Dos que falsamente fui sendo,
Montando, arquitetamente na escrita.
Sem regra ou rima.
Quem são eles?
Já não lembro.
Por onde andam?
Hoje são surdos, secos, fundos.
Não são textos, sequer frases.
Já não falam da cor, de luz e sombra.
Não movimentam a boca.
Hoje são estéreis fotografias recordativas.
Mofos enquadrados no rude papel em branco.
Hoje os mil personagens são nada.

(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Quis lhe escrever,
Mas o papel em branco é uma arena,
Um touro.
Eu toureiro ensaiei uns passinhos.
Rabisquei, apaguei.
Reescrevi, desisti, revisei.
E de tanto driblar o touro,
De tanto insistir,
Deixei-me apanhar.
Ajoelhei-me à espera dele,
Ergui a caneta em sinal de revolta.
-Pode vir!
A arquibancada sempre torce pelo touro,
Um coro soou:
-Touro, Touro!
Meu corpo no ar,
A caneta caída.
Foi dia de touro.
Amanha eu não sei.
A arena ainda perde por me esperar.

(Leonardo Schneider)



Canto, qualquer canto,
Quina.
Velhos cantos silenciosos que a gente rebusca,
Na justa junção das pontas dos quadrados,
Dos triângulos, do ângulo reto.
E a gente circulando feito diabo.
Canto.
Eternos círculos, demasiadamente helicoidais.
E rodopiar pelo centro, por um momento
Aparenta sinal de equilíbrio,
Sempre haverá um canto.
No nosso interior,
Em qualquer canto.

Um canto.

(Leonardo Schneider)