segunda-feira, 23 de março de 2015



Dentro de tuas bolinhas de gude, vejo tudo que sou. Vejo o que ainda não havia visto. Quando teu sorriso junta-se ao teu olhar, aquela coisa de tudo ser um só, tenho meio mundo. Metade milimétricamente partida. Mas quando ecoam tuas gargalhadas nas salas, tens o mundo somente pra ti.  E és aí onde o agarro e obtenho-te.  Onde te roubo só pro meu eu e te guardo bem lá no fundinho de mim. Sempre entre muitas das nossas mais loucas cambalhotas. És, de certa forma, um espelho. Um espelho como toda gente é, mas de uma maneira bem diferente. Pois meu reflexo exalta-se nitidamente por inteiro quando estas por perto. Quero com todas as forças adentrar em tua alma, aquietar-me em teu riso, estar em tuas luas e sóis. Tu bem sabes que és minha casa com fogão aceso. Minha cama quente, meu grão de amor com portão aberto. Muitos portões já fechei nesse meu caminhar. E muito joguei farelos e migalhas. Nunca pra ti, mas pelas janelas que olhei. Sempre estive aqui e no teu aguardo pro infinito. Prometo-te toda a fantasia e o meu chegar completo. Sem fim. O meu mar é tudo que tenho a te presentear. E as mãos sempre abertas, as palmas levantadas. E sinto por demais tua falta. Porque longe sou teu. Perto sou meu. O engraçado é sempre trocamos de papeis quando nos vemos. Isso sempre me rouba uma gargalhada. Te espero no nosso próximo cochilar. Num domingo, ou qualquer dia azul ou de chuva. Porque amo-te quando puxa-me o cabelo e faz piadinhas. E me diz com todo carinho do mundo: - Papai, Pai.

Tudo ao seu lado. Fantasia multi-color

Te amo mais que o te amo, e mais que o amor.

(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 12 de março de 2015



Sinto uma enorme vontade de escrever. Perdi, entre muitas navegações e naufrágios, o dom de redigir. Ando com um enorme medo do meio. Esses maremotos imprevisíveis que me rodeiam no centro. Entre meu lá e cá, sigo sozinho à canoa. Consigo progredir, mas daquele jeito. Ao leme meu macaco que ri. Ri de mim. Me aponta os oceanos e terras desconhecidas. Ri da minha cara porque não acho meu meio. Meu macaco é meu cá, o oceano o meu lá. Ambos são as tais ondas que bem conheço através de cartas náuticas e bussolas que me orientam. Mas meu meio não tem mapa, meu meio é o além mar. Não pousam feito as gaivotas que observo junto ao cais, antes de partir. Meu centro é tudo que desconheço e és o avesso de tudo que transita em meu peito. Meu meio é o breu. E quanto mais me aproximo, quanto mais tento toca-lo, mais escuro fica. Esses caminhos de nos encontrarmos, de adquirirmos absolutas certezas, são tão vazios quanto o meio que tento encontrar. Pois tão somente há limites e regras nesse meio, e todas as infelizes certezas. Exequíveis diagnósticos de vida estão lá.  Pobre do homem que tem o seu meio. Pois procuro o meu feito gaivota, só que não quero pousar. A morte é repouso. Pouso duplamente conferido e fim. Extinto. Somente quero pousar no fim. Onde não há nada mais além de um suspiro, um sorriso e o silêncio. Conheço muita gente que aí já está. Numa segurança tão plena feito a cova e toda sua fundura. Continuo a chorar com retratos, à brincar de barco e à assumir as perdas de mim. Meu meio é o fim. E no fim, ei de me achar ao meio.
(Leonardo (Sem meio) Schneider)