sexta-feira, 9 de dezembro de 2016


Nos calabouços da existência, uma pedra rolou ladeira abaixo.
Despencou no meio do meu peito, rompeu os cadeados e as jaulas.
Essa pedra não tinha rota, rolou sem sentido.
Assim, resvalava onde dava.
Sem destino.
Eu a vi despencar com os olhos atentos, da sala de estar.
Veio em silêncio, maldita, sem anunciar o estrondoso choque.
Não deu tempo de me desvencilhar.
Reabrira nosso caso fechado.
Soltara tudo que é bicho.
Presos na geladeira, na cafeteira, na sala.
Pedra atomizada que nos poe pra dormir.
No mesmo recinto, lado a lado.
Calados, olhos abertos, braços fechados.
A pedra arrasta a vida, leva o que era esperança horizontalizada.
Leva o tudo e o nada.
Faz-nos mais leves, mesmo que doa.
A pedra agonizante da vida é recomeço.
Tudo tem preço.
E a pedra há de rolar.


(Leonardo Schneider)

segunda-feira, 31 de outubro de 2016


Um peteleco da vida
Esfera de mim
Depois do tapete
Atrás a cortina
Íamos bem
Mas fora o sofá
No escuro poeira
Todos ali
Embora reclamem 
Escuro vão
um tempo depois vem os dedos
da infância inocência
Resgata as esferas
Nos saculejos dos dias
Das maos
Chacoalham na vida tapete
O trombar das bolinhas
E lá vem a cortina
Depois o sofá
Os gudes no breu
O tempo de aguardo
O retorno das maos

9Leonardo Schneider9









Uma roda gigante passou no meu peito
Na minha sala
A partir de então odiei as pipocas e os eventos
Meus sofás emudeceram com o tempo
A roda gigante girava sem rumo nem cara
Nem culpa sem freio
Cadeira a cadeira repetia seu feito
Rodava
Rodava
Pipoca a pipoca
Gargalhada risada
Do jeito que era
Uma roda gigante
Na nossa sala
No meu peito
Uma roda gigante atravessou nossa casa

9Leonardo Schneider9

sexta-feira, 16 de setembro de 2016


Minha autofagia vem de cedo.
Dos dedos, das unhas,
Do fundo.
Consumir-se por inteiro é respirar.
Quem sabe cago esse meu eu
Regurgito o que entala.
Não me julgues mal, amor.
Tenho mal do peito.
No fluxo e empuxo.
Desse vem e vai.

(Leonardo Schneider)

quarta-feira, 14 de setembro de 2016



Sigo aflito
Teu olho me segue
Segue?
Grito, breu
Teu e meu vão
Minha boca na tua
movimento
Assim, como gosto
Sonhei
Avancei quando riu
Titubias-te  
Tudo podia, teu e meu
eu sem limites.
Teu seio na boca
Teu sexo na mao.

(Leonardo Schneider)

domingo, 4 de setembro de 2016



Daqui, deste meu corner do ringue, estremeço.
Brancura alemã, do outro lado, calcula.
Me olha, mede pernas gingando.
Pugilista do ensaio que sou,
Arrisco golpes ao vazio.
Gongo, logo me lanço, aquecido.
Guarda aberta, afoito.
O soco.
Vitoria/erro. Que me importa?
Cachorros sem casa adormecem no desmaio.
Lona.
Sonho seguro.
No vazio imbatível da brancura.
Tipo touro, toureiro.
Lençóis vermelhos a abanar.
Os olhos do touro, meus olhos nos dele.
Escrita morta do soco/gancho veio.
Negro.
Inicio dos fins.
Palavras, caneta, verso.
Lancei-me ao ar.
O touro.
O soco.
A brancura.

Do papel, arena.

(Leonardo Schneider)

terça-feira, 30 de agosto de 2016

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

  
Por que não o livre braço?

Chatos.

Escrever sempre fora pra quem tem punhos.

Quem escreve é que sabe.

O que almejas daí fetichista confortável?

O que queres além de si?

Cadeirinha do papai?

Literatura dos avós?

Escreves?

Ah sim!

Mais que ninguém, é claro!

Me dê tua mão, vamos juntos.

O botão da descarga, sim!

Não?

Ah, entendi.

Tu és respeitoso, entendido.

Polido e categórico.

Oh, sim.

De antemão anuncio tua lápide:

“Eis aqui o sem forma em forma de observador. Bolor, bolor.”

Pronto!

Fim de ti.

Quatro pás, uma lágrima ou outra.

Talvez não.

Quem sabe chova?
Talvez aches a perfeita forma na derradeira descida,

Naquele oco vão

 De teu próprio caixão.

(Leonardo Schneider)


quinta-feira, 18 de agosto de 2016


Olha, olhe bem, bem lá no fundo de si.
Esse teu círculo, teu eu.
Essa porção maravilhosa.
Caminhos de luta.
Esse teu vem e vai, levanta e cai.
Cai.
Levanta novamente.
Vens, tornas a voltar.
Não te apoquentes, meu bem.
Tuas marés são recursos.
Tu sempre estas a ir, ninguém tira.
Vai, vai!
Teu barco é teu rumo.
Daqui do cais admiro-te.
Daqui faço festa.
Daqui sinto saudade.
Brindo quando voltas,
Choro quando partes.
Mas o sol é teu destino,
Nesse coração multicolor.
Vais te encontrar, eu juro.
Signo leão.
No mar.
Eu sabia.
Sempre soube do fundo.

Hoje te escrevo pro mundo.

(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 21 de julho de 2016


Toco as estrelas
as bocas e as noites
Não me intimidam essas tais explosões
esses inícios
Apenas me perco no meio
da metade pro fim
Não me arredo
mas se cansar eu apago
Assopro
faço ventar
Arranco se preciso
sem devaneios
Escondido em toca escura
ainda escrevo
Luz de vela
oco meio
Com esse pensar decidido
da metade pro fim


(Leonardo Schneider)

sexta-feira, 8 de julho de 2016



Virgem, te quero.
Cheiro novo, além mar.
Branco.
Espero cautelosamente, me chama.
Pé de ouvido.
Saudade desse cheiro.
Nada além de branco.
Assim,
Branco.

(Leonardo Schneider)

Assim a gente gosta.
Assim seremos até trás da porta.
Sorriso maroto de beira de estrada.
Escroto num tapa, assim será se precisarmos ser, não importa.
Assim seremos além da estratosfera.
Jeito brilhoso, pele lustrosa no sol, assim será.
O beijo no abraço, a cara no berro, indecentes dos pés á cabeça.
Quentes.
Seremos trágicos terremotos,
Vítimas incabíveis, maremotos, Tsunamis.
Do núleo,
Do perigoso e quente.


Do meio do mundo.
Assim somos.

( Leonardo Schneider)


Para onde iremos depois 
do tudo que não fizemos?
Sorrisos ali, descasos acolá.
Certamente és caso de alguns tantos lamaçais.
Ou terapia.
Para onde alguns pés firmes caminham?
Onde firmaste o tal pé?
Firmas-te? Jura?
Era certo esse teu corpo equilibrado, me diga?
Não tremia ainda sim? Corda bamba?
Não?
Vai, diga-me!
Encontras-te ou te achas em perfeito centro?
Tens ou não um palco?
(Observa-te bem!)
Tens? Estas? Chegas-te?
Diga logo, pois daqui sigo aflito.
Se não, cala-te e roa as unhas.
Ou telefone, mande e-mails.
Aqui não finjo personagem.

(Leonardo Schneider)



sexta-feira, 3 de junho de 2016



Veio de dentro.
Intuiçao de fricção.
O peito ainda digere, 
Devagar é o jeito de mastigarmos direito.
Tu és cauteloso, eu nao.
Te disse com todos os dentes:
Vá! Estrapole! Se foda, foda, foda.
Foda o que sempre ocultaste-te!
Foda o que guardas no escuro de ti!
Bem sei que tu remas no amor.
Erra, acerta, acerta, erra.
São braçadas dos nadadores afogaveis.
Como tu e eu.
De longe te vejo, afastado te leio.
Quis-lhe escrever.
Somente porque despoja-se de si.
És honesto demais pro meu jeito
É onde te vejo, meu amigo.
Admiro e admito.
Porque sentirei saudades.
Daquelas nossas musicas, aquele nosso jeito,
Charutos que um dia fumamos, te lembras?
Anilhas, conversas.
Garrafas que um dia bebemos ou não.
Do dia que ao teu lado perdi o juizo, dizendo: -Tu nao entendes.
Te lembras?
Eras nada, eras o oco
Trouxeste-me a razao num segundo:
-Pra casa, com segurança tu vais! Eu fui.
Eu fui, fugi pela arte.
Sinceras saudades daqueles malditos, perseguidos e ate hoje nao concluidos refrãos
Do que virás depois que partir.
Esse nosso existir da tesão.


Leonardo Schneider

sexta-feira, 6 de maio de 2016


Noite. Bem tarde. Resolvo em mim e gosto de escrever. É sempre nessa enfadonha hora. Feito cuco de relógio, grito aqui dentro e lá fora. De hora em hora. Há tempos escrevo para ocupar-me, pela falta, o vazio que tatuagem nenhuma cobre. O buraco escuro, grande e lamacento, que jogo por debaixo dos tapetes. Todos jogam. Antecipando o inverno, as formigas e eu trabalhamos em tais destroços. As formigas, meus escuros de tapetes. Buracos negros que desejaríamos que não existissem. Tu tens, ele e ela têm. Tenho o passado, futuro e presente no aqui e agora. Revejo constantemente os tais tapetes, as tais lamas, os tais buracos. Evito volumes, acúmulos. Parece complicado. Não me é. Não há de ser pra ninguém. Apenas escrevo, assim nem mais nem menos. O papel em branco, virgem, suculento. Olho desdenhando. Não quero num relampejo. Reparo, disparo e escrevo.  Simples. Sempre fora assim meu processo. Arma de fogo, mais arma que fogo. Queria por fogo nas benditas folhas que apanhava as escondidas na infância, sem saber pra que. Guardava tudo feito troféus nas gavetas de minha cômoda. Dia a dia saboreava tactilmente meus objetos de crime. Pra que? Escrever obsessivamente. E rasgar e rasgar e comer. Bolinhas de papel são feitas para comer.  Ou rasgar ou comer. Simples.  Não evidencio o peito nos bares, automóveis ou círculos de amizade. Dou valor ao silencio. Todos gritam e saracoteiam, requebram enquanto falam. Falo quando não quero. Calo-me quando devia falar. Triste dilema. Ou falo demais, eis o porém. Hoje escrevi por amor a palavra.  Nunca tive regras, formas, estéticas, nem culpas de submissos escrivães. Escrevo simplesmente porque o peito extrapola quando não deve e a boca se cala quando deveria gritar. Apenas escrevo.

(Leonardo Schneider)

sábado, 12 de março de 2016



Ei, você aí! Estas à deriva ou finge atracar?
Bem sei, atracas em qualquer porto, como eu,
Mais tarde revira os travesseiros.
Juras dormir com os anjos ou deus.
Pede silêncio,
Acordas refeito.
É amor? É tesão?
Nada disso tem centro.
Viver é beirar.
Beirar o avesso,
Beirar o complexo.

Beira mar é sossego.

(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Nao revisei com café


Boca vermelha em contraste com a pele.
Tu brilhas nas retinas atentas, nas minhas, é serio.
Precisei apenas te ver passar, séria, taciturna ou envergonhada.
Não sei, tenho medo.
Mas saculejas meu peito. Seu jeito.
Calada, vi que me vê.
Pode ser sonho ou desejo.
Pode ser criação infantil essa minha coisa de achar.
Criar situações, medir íntimos quereres.
Depois negar a mim mesmo.
Dizer em alto e bom som no meu próprio peito.
Não!
Não importa, pois tornaste musa do vento.
Vens, escrevo. Vais, escrevo.
Precisava escrever.
Precisava que ventasse.
Juro!
Guardei meu silencio.
Chegaste à tempo.
Agora não sei,

Se és caso, pica, coração, intromissão ou simples vazio dos que sonham com beijos.

(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Flâneur

Noite.
O cruzamento define a paisagem.
Aqueles velhos prédios bem definidos.
Transeuntes, sinais, faixas de pedestre,
Mil bocas falantes.
A cidade.
Os olhos lá.
A calçada, mas os olhos lá.
A mente, ah!
Ela não. Ela lá.
Incrível como nos projetamos.
Mais alguns centésimos passos,
Agora doze.
Olhos nos olhos.
Roubaram-me as vistas.
Mas o foco, o foco!
A mente em desfoque.
Caminhar é assim.
Passada a passada o silencio na bolha.
Nossa bolha.
Nem cheguei ao lugar.
Quase tudo já sei.

(Leonardo Schneider)