Nos calabouços da existência, uma pedra rolou ladeira abaixo.
Despencou no meio do meu peito, rompeu os cadeados e as jaulas.
Essa pedra não tinha rota, rolou sem sentido.
Assim, resvalava onde
dava.
Sem destino.
Eu a vi despencar com os olhos atentos, da sala de estar.
Veio em silêncio, maldita, sem anunciar o estrondoso choque.
Não deu tempo de me desvencilhar.
Reabrira nosso caso fechado.
Soltara tudo que é bicho.
Presos na geladeira, na cafeteira, na sala.
Pedra atomizada que nos poe pra dormir.
No mesmo recinto, lado a lado.
Calados, olhos abertos, braços fechados.
A pedra arrasta a vida, leva o que era esperança
horizontalizada.
Leva o tudo e o nada.
Faz-nos mais leves, mesmo que doa.
A pedra agonizante da vida é
recomeço.
Tudo tem preço.
E a pedra há de rolar.
(Leonardo Schneider)