Há tempos que penso no sabor de tua pele. No cheiro tão branco,
tão meu. Penso em cada pedacinho que não conheço e queria conhecer. Esse sonho
só cabe aos meus desejos epidérmicos. Minhas pequenas articulações cerebrais
traem verdadeiramente meus desejos. Mas é como se eu a conhecesse desde o
princípio dos tempos. Como se fosse inerente em minha alma. Não sei como
proceder. Queria saber tua conclusão. Não tenho coragem suficiente pro teu
silêncio. Sei que és grande e doce, somente. E sigo calado, indiferente. Pura
mentira de mim mesmo. És cobra coral e eu sei. És das minhas serpentes a
favorita, no meu habitat obscuro. Cuidaria-te se fosse preciso. Alimentos
suculentos, minha carne viva aos pouquinhos. Lhe daria toda poesia escrita.
Todos os dias. Obviamente, pelas manhas, no café, como promessa, o meu e seu
cheiro de travesseiro seria a regra. Nossa língua untada entre delícias do cotidiano.
Meu desejo é carne e osso, fadiga. Sua enxaqueca sempre fora minha íngua,
despercebida. Suas minúcias, o meu arquétipo. Sua premissa, minha fuga. Quão
bom seria acordar com teu cheiro dia após dia.
( Leonardo Schneider)