quarta-feira, 15 de maio de 2013



Há tempos que penso no sabor de tua pele. No cheiro tão branco, tão meu. Penso em cada pedacinho que não conheço e queria conhecer. Esse sonho só cabe aos meus desejos epidérmicos. Minhas pequenas articulações cerebrais traem verdadeiramente meus desejos. Mas é como se eu a conhecesse desde o princípio dos tempos. Como se fosse inerente em minha alma. Não sei como proceder. Queria saber tua conclusão. Não tenho coragem suficiente pro teu silêncio. Sei que és grande e doce, somente. E sigo calado, indiferente. Pura mentira de mim mesmo. És cobra coral e eu sei. És das minhas serpentes a favorita, no meu habitat obscuro. Cuidaria-te se fosse preciso. Alimentos suculentos, minha carne viva aos pouquinhos. Lhe daria toda poesia escrita. Todos os dias. Obviamente, pelas manhas, no café, como promessa, o meu e seu cheiro de travesseiro seria a regra. Nossa língua untada entre delícias do cotidiano. Meu desejo é carne e osso, fadiga. Sua enxaqueca sempre fora minha íngua, despercebida. Suas minúcias, o meu arquétipo. Sua premissa, minha fuga. Quão bom seria acordar com teu cheiro dia após dia.

( Leonardo Schneider)

sexta-feira, 10 de maio de 2013


Sempre que aparece, por incrível que pareça, sinto seu gosto de longe. Não sei se são puras imbecilidades essas minhas impressões ou se realmente, de alguma forma, tua pele esta impressa em minha língua. Sei que és doce-amarga, apenas isso. Mesmo tendo esse sabor cacau 85%, sempre tento ler algo a mais em tua pele escrita. Mas como se mexe em demasia quando fala, e meu grau de miopia é um tanto elevado, às vezes, fica bem complicado destrincha-la. Como gosto disso e como me dá prazer. Lê-la sempre foi meu hobby. Gestos e manias, o fundo da retina. Ah essa é a melhor parte. A retina. Bolinhas de gude brilhantes. Seus olhinhos se misturam à sua boca quando ri. Vejo os dois ao mesmo tempo e não consigo mais prestar à mínima atenção quando fala, porque estou ocupado demais em ver o que tem lá dentro. Queria entrar em você, puxar seus cabelos, romper a sua goela, me esbaldar em seus líquidos, retumbar em tuas veias. Mas me contento muito em lê-la. A gente se habitua a tudo. A verdade, é que no fundo tenho um enorme medo de que se transforme em outra coisa. Outra coisa diferente do que és em mim. Medo, talvez, de que se transforme em você. Não sei ao certo. Acho que é isso. Prefiro a ilusão de tudo que crio. Ainda não treinei a esquiva pro nocaute brutal da realidade.

(Leonardo Schneider)