sexta-feira, 10 de maio de 2013


Sempre que aparece, por incrível que pareça, sinto seu gosto de longe. Não sei se são puras imbecilidades essas minhas impressões ou se realmente, de alguma forma, tua pele esta impressa em minha língua. Sei que és doce-amarga, apenas isso. Mesmo tendo esse sabor cacau 85%, sempre tento ler algo a mais em tua pele escrita. Mas como se mexe em demasia quando fala, e meu grau de miopia é um tanto elevado, às vezes, fica bem complicado destrincha-la. Como gosto disso e como me dá prazer. Lê-la sempre foi meu hobby. Gestos e manias, o fundo da retina. Ah essa é a melhor parte. A retina. Bolinhas de gude brilhantes. Seus olhinhos se misturam à sua boca quando ri. Vejo os dois ao mesmo tempo e não consigo mais prestar à mínima atenção quando fala, porque estou ocupado demais em ver o que tem lá dentro. Queria entrar em você, puxar seus cabelos, romper a sua goela, me esbaldar em seus líquidos, retumbar em tuas veias. Mas me contento muito em lê-la. A gente se habitua a tudo. A verdade, é que no fundo tenho um enorme medo de que se transforme em outra coisa. Outra coisa diferente do que és em mim. Medo, talvez, de que se transforme em você. Não sei ao certo. Acho que é isso. Prefiro a ilusão de tudo que crio. Ainda não treinei a esquiva pro nocaute brutal da realidade.

(Leonardo Schneider)

Um comentário:

  1. CARALEO! PUTA QUE PARIU!
    Leo, esse esta, definitamente, no meu top 10. Brigando posto junto com Caio Fernando, Pessoa, e G. G. Marquez.
    Por que me toca, porque também prefiro a irrealidade das coisas à encarar o golpe bruto do que é. Prefiro idealizar, me salvar no meu mundo pensamento.

    Parabéns.
    Logo logo, já teremos material para publicar um livro seu! (:

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