Esse papel fica a me fitar.
Ele sempre me olha de longe, me incita.
Ele é meu demônio particular,
Ele é meu desestabilizador completo.
Ele é meu oceano, minhas estrelas.
São segredos fugidos do que vejo.
Há tempos não quero mais vê-lo.
Como qualquer vicio sério dos que dizem por aí,
Fico a fugir.
Talvez não tenha jeito,
Talvez.
Tenho mais medo de escrever do que viver.
Porque viver é menos atroz, menos denso.
Escrever é cravar a alma nos acontecimentos.
Detesto ter que me empalhar e a taxidermia me enjoa.
Tenho me sentido um tanto torto.
Não caibo em lugar algum e amo a vida.
Onde vou digo: Tô bem e legal.
Nem sei quais são essas palavras, nem quais são os significados
disso.
Significado, signo.
Tô sem um.
Tô sem nada.
Apenas o texto que me chama e mantem o fogo aceso,
Porque papel queima e é pura combustão.
Assim como eu nesse instante.
(Leonardo Schneider)