terça-feira, 3 de janeiro de 2023

 

Atento entre poças, traços e pixes.

Entre o silencio desumanizado dos sorrisos e galerias.

Entre saber quem é e quem não.

Quem esta e quem fugiu,

Quem sucumbiu.

Quem nem sabe o que acontece

E quem morreu atropelado,

Finjo.

Finjo um abraço e um beijo.

Finjo saber onde foi e onde esta.

Finjo essa jubarte sentimetal que não tenho.

O de saber que finjo,

Nao finjo.

Nem fudendo.

 

(Leonardo Schneider)

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

 

No relógio,

No pulsar,

Na voz de minha mãe,

No dia que insiste em nascer,

No sorriso de meu filho,

No mal humor de todo amor e nos deliciosos afagos de minha mulher,

Nas covas bochechudas de minhas sobrinhas,

Na presença sol de meu afilhado.

Nas grandes questões de João,

No dedo em riste de minha irmã,

No abraço pedido, carinhoso e singelo, dos que vejo na rua.

Tudo me é sério.

Nem lasca, nem trisco me passam desapercebido.

Tenho dor dos olhos.

Tenho dor da alma e nada disso parece bom.

Porque a cada sílaba a gente sente que perde um pouquinho,

Um pouco de tempo,

Um pouco de vida,

Um pouco de lágrimas,

Um pouco dessas coisas todas que nos fazem escrever.

Perdoem-me por perder em demasia.

Tenho alma de poeta.

 

(Leonardo Schneider)

terça-feira, 2 de agosto de 2022

 

Casas, escolhas, caminhos.

Tijolos medidos,

No justo encaixar.

Nada arredondados ou emparelhados.

Tua fúria,

No sono e retrato,

A noite.

A tarde.

Nos dias.

Sonhos,

Os nossos.

Nossa casca, epiderme ou falta.

Num muro pichado de nada.

Nessa cor.

No que sinto nessa equilátera situação.

O não.

 

(Leonardo Schneider)


domingo, 24 de julho de 2022

 Ilusão

Teus olhos apodrecidos,

Meu jeito tosco.

Quem tem razão?

E pra dormir, qual o descuido?

Qual coração, sem calmaria ou silencio?

Que bicho que assim ama?

Mas assim vamos.

No relapso de qualquer tempo,

De relance.

Das faces que viram,

Egípicios.

E fingimos o amor,

No teu e meu mundo.

O amor vibra.

Teu corpo nos agridoces,

Azedos,

Crassas alegrias.

Tu, eu.

Quem sabes no acolá?

Dos Grupos de dissídios?

Nos olhos flamejantes das coisas e pessoas,

Dos bons dias atravancados pelas necessidades fúteis

dos que olham, em vão, e em tudo percebem o belo.

Dos tolos. dos que se sentem, sofrem, se orgulham .

Do Trabalho?

Do Ruído?

Num Vazio,

Rascunho?

Somente tu,

Eu , nada?

Nesse escuro que são todas essas perguntas,

O absurdo silencio,

Teu, meu?

Do fundo digo, amor

Lutei.

Juro,

Lutei.


(Leonardo Schneider)


sexta-feira, 8 de julho de 2022

 

De quantos passados vive um sujeito?

Entendo que é o que somos.

Mas e quando o individuo guarda todos os passados?

E quando ele finge que não sabe, mas rebusca?

O passado.

Papel amassado e troco de padaria.

Já vi gente se perder.

Sofrer e fazer sofrer.

O passado, as estórias e coisas da alma, servem a memória.

Mais colorido e afetivo.

Uma loja de doces.

Quem tem passado vivo de forma física,

Está mais que morto na alma.

 

(Leonardo Schneider)

sexta-feira, 1 de julho de 2022

 

Esse papel fica a me fitar.

Ele sempre me olha de longe, me incita.

Ele é meu demônio particular,

Ele é meu desestabilizador completo.

Ele é meu oceano, minhas estrelas.

São segredos fugidos do que vejo.

Há tempos não quero mais vê-lo.

Como qualquer vicio sério dos que dizem por aí,

Fico a fugir.

Talvez não tenha jeito,

Talvez.

Tenho mais medo de escrever do que viver.

Porque viver é menos atroz, menos denso.

Escrever é cravar a alma nos acontecimentos.

Detesto ter que me empalhar e a taxidermia me enjoa.

Tenho me sentido um tanto torto.

Não caibo em lugar algum e amo a vida.

Onde vou digo: Tô bem e legal.

Nem sei quais são essas palavras, nem quais são os significados disso.

Significado, signo.

Tô sem um.

Tô sem nada.

Apenas o texto que me chama e mantem o fogo aceso,

Porque papel queima e é pura combustão.

Assim como eu nesse instante.

(Leonardo Schneider)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

 

Os dias falham na minha caneta preta.

Enquanto escrevo o vazio das coisas,

as rasuras das saudades,

dos sorrisos e abraços,

Meus olhos negros que vibram,

Borram.

E quanto mais a caneta corre ao papel,

Mais adquire disforme sentimento.

Pois o que se sente, indiferente se amor ou saudade,

Fica restrito, sem forma ou cor.

A caneta tenta dar sentido, existência.

Faz-se um simulacro,

Um rascunho do que se sente,

O punho ginga daqui pra lá.

O papel vai perdendo a virgindade.

Parir o texto é a funesta certeza de todo poeta.

 

(Leonardo Schneider)