Suas malas estão prontas? Irás partir com o mesmo mofo que trouxera.
A mesma mala surrada, na busca pelo nada. Não percebeste que tua procura
permeia a solidão dos frívolos abraços e beijos? Tens um único tesouro a tua
espera e sei que és o mais valioso dentre todos. Mas teu silêncio velado, tua
fria gruta do peito te distancia do verdadeiro objetivo de busca. Tu és a
procura e o encontro. Não sabes? Vais pra longe? Longe de que? De quem?
Paraíso? Não me venha com infantilidades! Sabes que tenho o peito quente, úmido
e escrevo porque não durmo direito. O que vais encontrar, pequena? Exatamente o
mesmo. O mesmíssimo processo de procura. E vais cavar e cavar, incansavelmente,
tua própria cova rasa, teus sonhos novamente alçados a um determinado ponto. E
de novo, de novo. Não vês que estas andando em círculos? Tu és o objetivo,
pequena! Tu és o tesouro a ser encontrado. Tu és o que sempre procuraste. O
espelho nos desloca, a vaidade nos cega, a dor nos esvazia. Não se perca lá
fora. O que mais almeja esta arraigado em tuas costas, feito casco. Mas não vês
nada além do caminho a seguir, do que há pela frente. Um simples giro em torno de
si e tudo resolvido. Estas de malas prontas? Pra onde vai além de si mesma, pequena?
(Leonardo Schneider)