quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Humildade com "H"

A quantidade na escrita de nada serve.
Essa avidez na palavra fica feito refrigerante.
Feito o ultimo gole, feito diarreia.
Qualquer coisa maldita,
No destrinchar da imagética.
Mil poesias para surdos.
Serve para qualquer contexto.
Serve para qualquer idiota.
Para escrever é preciso punhos, não apenas palavras.
É preciso o mundo diagnosticado,
Não o cansaço na pena.
Não o escrever para emails.
Não o escrever para contextos e páginas.
Mas a observaçao minuciosa.
Mulher amada, amor e paixao são para utópicos.
Escrever um livro são para poucos.
Então senta-te em teu colo e observa-te.
Escrever é arte dos humildes.

(Leonardo Schneider)



Sou eu.

Nos remelexos e apetrechos,
Me arroxo desse jeito, concluo.
Findo-me no escuro
Como qualquer sujeito maduro.
Criança,
Lambança de mim mesmo.
Pareço festança,
Pareço absurdo.
No foco obscuro
Enalteço a luz de meu peito,
Rasgado, obtuso.
Aritmética confusa.
Sem colchetes nem parênteses.
A fórmula mágica de Arquimedes.
Que nada faz, nada traz.
Sou a crase maldita sob todo cavalo.
Sou as lâmpadas que advertem nos caixas de supermercado.

(Leonardo Schneider)

Pichação

Poesia de muro.
Tinta, concreto e brita.
Rabiscar as palavras,
Num desabafo pra esta vida maldita.

(Leonardo Schneider)

Prelúdio de mim mesmo II

Nada é nada, ponto final.
Um medíocre sentimento,
Um acordar com o vento.

(Leonardo Schneider)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Fase oral insolucionável



Nascera na rua do acaso. Fruto de trepadas mal dadas. Não se sabe ao certo qual delas. Filho das coxas, como dizem as más línguas. Mas mamava e muito. Tetas de putas, brancas, negras e orientais. Até as mendigas faziam fila na porta de sua casa. Todas se ofereciam para ajudar. Mas era insaciável. Sua boca sugava até machucar. Tentaram chupetas, tentaram afastá-lo das tetas, mas foi assim até os cinco anos, quando descobrira o gosto de terra. Um verdadeiro alívio para as mulheres do bairro, pois no jardim de sua casa, como toda criança, fazia bolinhos de mentirinha. Mas devorava-os um a um, sem ninguém para que pudesse reprimi-lo. Quando via os caminhões de areia chegando, com seus montes de terra, para as reformas das casas do bairro, era fartura na certa. Era constantemente visto andando pelas construções. Depois surgira o gosto por plantas. Comia tudo que via. Rosas, samambaias, margaridas, trevos de quatro folhas. As orquídeas, ele me dizia, eram as mais saborosas. Nada o detinha. Sua boca era o seu maior prazer. Esse estranho desejo durou um bom tempo. Já na adolescência, por motivos bastante incertos, resolvera roer unhas. Talvez por ansiedade, fato bem visível nos descontrolados e bombásticos hormônios da puberdade. Ou por afinidade aos diferentes paladares. O cheiro da unha, da carne, suja ou lavada. O certo é que pelas unhas conseguira definir os sabores do mundo. Fato bastante notável para um menino de 14 anos. Terras, muros, paredes de casas, tijolos encostados, maçanetas de carros. Tudo ele distinguia. Gosto de sabonetes, de vasos sanitários, banheiros públicos, portas de armários. Era um verdadeiro deus palato. Nessa época surgira sua maior paixão. O gosto pelas unhas dos pés. A cada nova namorada, o desejo de roer seu dedão. Mas o gosto pelas unhas não ficava para trás. Sabia de cor o gosto de cada menina da escola. O gosto da Gabriela, da Francisca, da Gisele. Até mesmo o gosto da professora Adelaide, que era sua paixão mais secreta. Seguia tocando todas as garotas. Crescera refinando os diversos sabores. 

           Enquanto os garotos da escola se entretinham com a descoberta de cigarros e  bebidas, ele seguia em seu mundo de experiências de gustativas. O gosto por esmaltes tornou-se um vício digno de internação (...)


(Leonardo Schneider)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Introspecção


Hoje eu quero é o silêncio.
Sobretudo o silêncio das bocas cansadas.
Um silêncio, mórbido e inexistente.
O escuro silêncio que vislumbro no espaço.
Um silêncio que bata com a língua nos dentes.
Um silêncio que mesmo calado, acrescente.
Hoje eu quero o mais sublime silêncio.
O silêncio de tudo que criou nosso mundo.

(Leonardo Schneider)