Minha boca não sossega. Aliás, são as palavras, tão mal
educadas por não respeitarem meu silêncio, que ficam balbuciando nesse pequeno esquema
complexo que é o pensamento traduzido em fala. Quer gritar, é o que percebo. Expandir-se
ao máximo. Sinto um certo tremular expontaneo, uma espécie de tic nervoso. E isso se dá, quando em sucessivos instantes
do dia, bem delimitados no meu quadro de horários, lembro de tua pele. O que
mais me intriga é que esse pulsar muscular, essa somatória de musculos
trabalhando ao mesmo tempo e em conjunto, principia quando sofro incidência direta dos
raios solares, ou seja, sempre nas horas mais fortes do dia. Não sei o que o
sol tem à ver com toda essa estória, não sei qual foi a internalização
simbólica que fiz da tua pessoa, mas a
sensação epidermica que tenho com ele, automaticamente me traz você. Bem, dito
isso, mesmo não sendo muito didádico ou claro, tendo em vista que essas coisas
somente a poesia dá conta do recado, e mesmo assim levam anos pra se atingir o
objetivo almejado, gostaria que soubesse que essa minha loucura obsessiva por
tua pele não é de hoje. Nossos distanciamentos são tão curtos quanto ir na
padaria da esquina. Primeiro, porque esta sempre em mim, nos meus sonhos, na
minha íris, danças em minhas narinas. Segundo, é que quando nos vemos, sinto o
estranho sentimento apaziguador do conforto, do calor de teu peito. Me sinto,
verdadeiramente, em casa. Carrego na minha sacola fragmentos do teu corpo. Ora
abuso de umas, ora de outras partes. Tudo tão insano que sempre me perco e
retorno a tua pele. Ainda vou juntar todas as partes com o tempo. E nesse dia,
quando terminar, quero que apague a luz e junte teu corpo ao meu, pra que eu possa sentir o calor desse teu eu
ensolarado.
(Leonardo Schneider)