quinta-feira, 26 de setembro de 2013



Minha boca não sossega. Aliás, são as palavras, tão mal educadas por não respeitarem meu silêncio,  que ficam balbuciando nesse pequeno esquema complexo que é o pensamento traduzido em fala. Quer gritar, é o que percebo. Expandir-se ao máximo. Sinto um certo tremular expontaneo, uma espécie de tic nervoso.  E isso se dá, quando em sucessivos instantes do dia, bem delimitados no meu quadro de horários, lembro de tua pele. O que mais me intriga é que esse pulsar muscular, essa somatória de musculos trabalhando ao mesmo tempo e em conjunto,  principia quando sofro incidência direta dos raios solares, ou seja, sempre nas horas mais fortes do dia. Não sei o que o sol tem à ver com toda essa estória, não sei qual foi a internalização simbólica que fiz da tua pessoa,  mas a sensação epidermica que tenho com ele, automaticamente me traz você. Bem, dito isso, mesmo não sendo muito didádico ou claro, tendo em vista que essas coisas somente a poesia dá conta do recado, e mesmo assim levam anos pra se atingir o objetivo almejado, gostaria que soubesse que essa minha loucura obsessiva por tua pele não é de hoje. Nossos distanciamentos são tão curtos quanto ir na padaria da esquina. Primeiro, porque esta sempre em mim, nos meus sonhos, na minha íris, danças em minhas narinas. Segundo, é que quando nos vemos, sinto o estranho sentimento apaziguador do conforto, do calor de teu peito. Me sinto, verdadeiramente, em casa. Carrego na minha sacola fragmentos do teu corpo. Ora abuso de umas, ora de outras partes. Tudo tão insano que sempre me perco e retorno a tua pele. Ainda vou juntar todas as partes com o tempo. E nesse dia, quando terminar, quero que apague a luz e junte teu corpo ao meu,  pra que eu possa sentir o calor desse teu eu ensolarado.

(Leonardo Schneider)

Sempre me fora muito àrduo esse processo de deixar minhas digitais em ti. Mas sempre esta à esperar, como se mendigasse meus gestos. Cruel e maliciosa é tua forma carente, colocando-se no papel de vítima. O que queres realmente? Tu que já arrancaste metade de mim, metade de tudo que é meu. Levaste embora consigo meus sorrisos, sortilégios, paixões absolutas, todas as minhas máximas metafisicas. Agora quer minhas linhas digitais em tua pele? Quer um “cuerpo a cuerpo” nos parâmetros de Sade? Já te engoli diversas vezes, rapaz. Principalmente na infância. Recordo-me muito bem do dia em que ousei degustar teu corpo, apenas pela curiosidade de saber qual era o sabor. Sei que também já lhe fiz em pedaços, em bolinhas, mas confesso que foi por raiva, não peço perdão. Hoje quero a redenção. A revanche por ter me tomado por anos, dia após dia. Vou lhe marcar pro resto da vida, meu caro rapaz. Criarei a expressão inapagável, nada ira te salvar. Mas onde foram parar as malditas palavras? Não ria da minha cara, seu filho da puta!! Sua límpida brancura me enoja. A caneta esta em minhas mãos, sua hora vai chegar. Você não perde por esperar.

(Leonardo Schneider)

terça-feira, 17 de setembro de 2013


Sigo na palavra, à margem. Com meus parágrafos nunca escritos ou organizados. Meus silêncios sentenciados entre vírgulas e pontos. Todos os meus pensamentos sempre se misturam na batedeira de bolo.  110v, é claro. Aí de mim se fosse 220v! Misturo ovos e massa capilar por capricho de quem quer ficar careca de tanto sentir e pensar. Pensar, pra falar a verdade, na escrita, nunca pensei.  Deixo os dedos correrem no teclado, embora muito antes a caneta já rabiscara muitas das minhas aflições ao meio. Tenho tudo escrito a punho, essa é a veredicta condição. Papéis e montoeiras de papéis. Estão todos aqui no meu pequeno bolso da camisa. Como de praxe, costurados no lado esquerdo. Já é bem notado pelos transeuntes que passam. Aquele bolso estufado, parecendo ser de gente séria, com contas à pagar, dinheiro ou qualquer outro papel que o torne tão sério. Mas não. São apenas minhas medíocres palavras. Não sei bem o “por quê” deles costurarem o bolso do lado esquerdo. Mas isso fica poético pra qualquer imbecil, metido à besta. Acrescento fermento no bolso. Quero que o que escrevo cresça quentinho no forno, rasgue a costura. Principalmente as de ângulo reto. Bato bem pra que a massa de papéis e palavras se dissolva rapidamente. Pronto. Consigo chegar em casa. Retiro com cuidado e reservo.  Deixo descansar. Duas horas. É hora de passar pra outro recipiente e levar à geladeira pra firmar. Só então, depois de um dia, retiro a forma fria e sirvo em fatias. Sei que às vezes erro a mão. A pequenina variação dessa minha enfadonha receita. Ainda hei de tirá-la do cardápio de entrada, pra que possam se fartar de chantili e cereja, um dia, na sobremesa. 

(Leonardo Schneider)