quinta-feira, 23 de setembro de 2010

E a tal da liberdade artística?




A 29° Bienal de São Paulo abre as portas para o público neste próximo sábado, e o artista pernambucano Gil Vicente, já virou o centro das atenções e das polêmicas. Isso tudo porque a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) emitiu uma nota pedindo que se retirasse a mostra intitulada "Inimigos", com o argumento de que a arte precisa respeitar os preceitos da legislação brasileira e um deles é não fazer apologia ao crime, como estabelece o código penal brasileiro. A mostra, elaborada com carvão sobre o papel, traz o auto-retrato do artista empunhado uma arma contra inúmeros políticos famosos como o papa Bento Bento 16, Ariel Sharon, Fernando Henrique e até mesmo o presidente Lula.
Não é possível que em tempos atuais haja um retrocesso nos debates sobre arte no Brasil. Dizer que se trata de uma apologia à violência seria o mesmo que dizer que Édipo Rei incentiva o parricídio e o incesto. É preciso menos formalidades e mais liberdade, abrir mais questionamentos sobre a liberdade artística neste país. Carente de incentivos e rico de ignorâncias.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Será que você tem?




A moral e a ética  estão implicitamente ligadas ao claro discernimento do individuo, na ênfase do “conhece-te a ti mesmo.” Desvinculado radicalmente dos sentidos e do senso comum, partimos do pressuposto de que nada sabemos. Assim sendo, somos estritamente levados a dúvida, ao questionamento. Da dúvida em relação ao que se conhece deriva a comprovação crítica e a consciência da própria ignorância. Por tanto, a moral e a ética devem se distanciar das questões pré-estabelecidas da vida cotidiana para alcançar o cume do entendimento sobre o valor dos valores.  Um verdadeiro despertar-se, pois diante tantas ignorâncias em relação ao agir sem perguntar-se, a ética e a moral distanciam-se de sua verdadeira natureza, de seu conceito. A multiplicidade de opiniões baseadas no cognitivismo e no senso comum, não ultrapassa as fronteiras dos determinismos encontrados na sociedade. Os pragmatismos e as questões utilitaristas impedem, cada vez mais, o homem de interrogar-se diante o mundo, de espantar-se. E isso é o que se faz tão necessário em tempos atuais.

sábado, 18 de setembro de 2010

Gosto do Pessoa na pessoa.



Tenho lido muito o "Livro do desassossego". Logo percebi que se poderia abrir em qualquer página, ler qualquer fragmento. Não agüentei, o prazer táctil foi maior. Li o livro inteiro. Como tantos outros pseudônimos de Fernando Pessoa, este, o Soares, trouxe-me todas as milhares de pessoas contidas no Pessoa. O que mais impressiona é o nível de detalhes deste e outros tantos personagens como Alberto Caeiro e Álvaro de Campos, riquíssimos em forma, gesto, e cores. Eis o fragmento 6:

"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior." ( Fernando Pessoa)


Onde esta a Democracia?







A lei antifumo, criada no estado de São Paulo no dia 7 de agosto, onde se é proibido fumar em ambientes fechados de uso coletivo como bares, restaurantes, casas noturnas e outros estabelecimentos comerciais fere, inescrupulosamente, os conceitos sobre democracia no Brasil. Parece que voltamos, ou nunca saímos, das antigas questões separatistas que delimitavam muito bem nossa sociedade. A casa, a senzala, o negro, o branco e agora, o fumante, "saudável". Ponho aspas nos saudáveis, pois enfiaram nas mentes mais desprovidas de razão, o estúpido slogan do homem politicamente correto/saudável. Sou expressamente contra o fumo em hospitais, salas de aula, ônibus, aviões, restaurantes, cinemas, etc. Mas em bares? Os saudáveis vão para bares? Não sabia!
Recentemente vi em um jornal de expressão nos meios midiáticos, que estavam medindo os níveis de poluição das ruas de São Paulo. Acoplavam dois filtros nos indivíduos (policiais, garis, guardas de trânsito) que trabalhavam expostos ao “saudável” ar das ruas. No fim do dia, retiravam esses filtros para uma análise mais detalhada. Adivinhe qual foi a constatação? Por dia esses indivíduos fumavam o equivalente a dois cigarros. E ainda é proibido fumar em bares! Por que não se lança uma campanha para diminuir a compra desenfreada de carros e motos? Mas não! O brasileiro “apaixonado por carros” não para de comprá-los. Carros pra trabalhar, viajar, passear. Meu Deus!
Acho que essas leis tão radicais geram preconceitos e excluem indivíduos. Outro dia mesmo fui alvo de preconceito num bar a céu aberto. A lei ainda não estava em vigor, e eu prazerosamente fumava um cigarrinho. Uma senhora sentou numa mesa bem próxima a minha e pediu ao garçom que eu apagasse o cigarro. O garçom, extremamente educado, sugeriu que ela fosse para a parte interna do bar. Ela não se conteve e berrou:
“Morra com câncer de pulmão, mesmo!”
Pensei com os meus botões, será que aquela maldita senhora não morrerá de câncer na cabeça antes de mim?
Fui alvo de preconceito e exijo os meus direitos! Todos têm.  Todos aqueles que estão à margem da sociedade, incluindo agora os fumantes.