sábado, 18 de setembro de 2010

Gosto do Pessoa na pessoa.



Tenho lido muito o "Livro do desassossego". Logo percebi que se poderia abrir em qualquer página, ler qualquer fragmento. Não agüentei, o prazer táctil foi maior. Li o livro inteiro. Como tantos outros pseudônimos de Fernando Pessoa, este, o Soares, trouxe-me todas as milhares de pessoas contidas no Pessoa. O que mais impressiona é o nível de detalhes deste e outros tantos personagens como Alberto Caeiro e Álvaro de Campos, riquíssimos em forma, gesto, e cores. Eis o fragmento 6:

"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior." ( Fernando Pessoa)


Um comentário:

  1. Me apaixonei cedo por Fernando Pessoa, talvez até cedo demais para entender o que era 'poesia', 'poetica' e tantas outras artes literárias. Lembro do primeiro livro, ainda o tenho - Tabacaria e outros poemas. Cheguei a quase decorar todo o livro. De'corar', vindo do latim, cuore, bem no peito, coração. Fernando Pessoa definitivamente merece todo a pomposidade que cerca os canones, e o Livro do Desassossego merece todo o respeito de um clássico. É meu livro de cabeceira, e também aprendi o prazer de abrir em qualquer página e ler um trecho ainda de dormir. Para fechar o dia.

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