sexta-feira, 4 de dezembro de 2015


Normal.
Quão normal?
Quais normalidades?
Esse negócio tem padrão?
E precisão, tem?
Nada sei sobre isso, você podia me responder?
O que te faz triste ou alegre? A normalidade?
Pra uns sei que sim, sei que os padrões e as precisões animam muita gente,
Embora entristeçam tantas outras.
Sou do time triste.
E tu? Anima?
Anima ser triste?
Tristeza tem a ver com amor e olhe lá!
Não deturpe as questões!
Machuco o joelho e dói à beça, pra você saber.
E você?
Você se machuca no torpor dos acontecimentos,
Se bem sei.
Falta-lhe alma e apreço,
No saborear, no gosto e gozo.
Eu, por tristeza, misturo tudo no liquidificador.
Misturo essa tua bobagem também.
E tudo que há em mim,
E tudo que falta.
Tenho medo de ti,
Que não vê as cáries dos sorrisos.
Tome um pouquinho de dor nessa tua vida.
Amor e dor é rima barata.

Prefiro normal x amor.

(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015


Tens um buraco no peito?
Sabe como és?
Raso ou profundo?
Onde ele te leva?
O que faz contigo?
Te pune? Te rechaça?
Abre as pernas quando sossega?
Faz piadas?
Te embebeda?
Ou disfarça e dá gargalhadas?
Teu buraco joga pedras?
Vira a cara e ri da esfinge?
Teu buraco faz sentido ou se extingue na calada?
Esse teu maldito buraco no peito não pode ser motivo de frivolidades.
Não pode surgir de amores, poemas ou cartas.
Não pode conter.
Ele esta lá, ele é o nada.
Afinal de contas, tens ou não tens um buraco no peito?

(Leonardo Schneider)

Sentirei o mundo e todo seu aço.
Pedaço à pedaço, tua falta será ferro corroído.
Talvez distante demais, talvez só um pouco.
O velho tudo e o nada.
Assim somos.
E se nos distanciarmos?
E se nos perdemos?
Daqui, desse meu farol da ilha,
Nosso movimento de maré vem e vai.
Prometo anunciar se houver rochas ou redemoinhos.
Qualquer embarcação levará teu sorriso torto, teu cheiro.
Levarás um bocado de mim, porque pra ti fui feito.
Nosso sorriso, a parceria.
Não haverá mendicância no abraço.
Nada de choro e aperto de mãos.
Somente a indubitável certeza que nos foi imposta.
Nosso eterno sim pra tudo que há de vir.

(Leonardo Schneider)

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Prelúdio em dó menor para aliviar essa nossa dor.


Desculpe-me por ser demasiadamente nefasto. Repare bem, com cautela, nossos pomposos e estrondosos fatos.
Eu não ando de avião e tu quase não andas de ônibus.
Somos equidistantes nesse amiúde movimentar-se.
Mas perto demais, nesse orientar-se,
nessa fajuta conclusão em que tiramos dos mundos e das flores.
Somos entre muitas noites, cores, o pensar e discutir.
Entre muitas madrugadas de admirarmos-nos,
o absoluto daquela nossa eterna solidão,
independente da regra ou estética.
Da falácia, verdade ou rima.
Essa nossa ida e vinda.
Esse eterno seu vai,
Sempre durará, eterno.
Fazes parte da intrínseca questão humana.E exibe os tais brilhantismos.
E mais do que isso,
Mais do que a morte e seus absolutos suportes ditatoriais,
Seremos sempre essa parte da nossa amizade que vai, foi, vem e tu sabes o retorno.
Somos esse ciclo.
Estar é verbo e tu muito me conheces.
Sinto tua falta de outro modo.

Nos já .

( Leonardo Schneider)

segunda-feira, 23 de março de 2015



Dentro de tuas bolinhas de gude, vejo tudo que sou. Vejo o que ainda não havia visto. Quando teu sorriso junta-se ao teu olhar, aquela coisa de tudo ser um só, tenho meio mundo. Metade milimétricamente partida. Mas quando ecoam tuas gargalhadas nas salas, tens o mundo somente pra ti.  E és aí onde o agarro e obtenho-te.  Onde te roubo só pro meu eu e te guardo bem lá no fundinho de mim. Sempre entre muitas das nossas mais loucas cambalhotas. És, de certa forma, um espelho. Um espelho como toda gente é, mas de uma maneira bem diferente. Pois meu reflexo exalta-se nitidamente por inteiro quando estas por perto. Quero com todas as forças adentrar em tua alma, aquietar-me em teu riso, estar em tuas luas e sóis. Tu bem sabes que és minha casa com fogão aceso. Minha cama quente, meu grão de amor com portão aberto. Muitos portões já fechei nesse meu caminhar. E muito joguei farelos e migalhas. Nunca pra ti, mas pelas janelas que olhei. Sempre estive aqui e no teu aguardo pro infinito. Prometo-te toda a fantasia e o meu chegar completo. Sem fim. O meu mar é tudo que tenho a te presentear. E as mãos sempre abertas, as palmas levantadas. E sinto por demais tua falta. Porque longe sou teu. Perto sou meu. O engraçado é sempre trocamos de papeis quando nos vemos. Isso sempre me rouba uma gargalhada. Te espero no nosso próximo cochilar. Num domingo, ou qualquer dia azul ou de chuva. Porque amo-te quando puxa-me o cabelo e faz piadinhas. E me diz com todo carinho do mundo: - Papai, Pai.

Tudo ao seu lado. Fantasia multi-color

Te amo mais que o te amo, e mais que o amor.

(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 12 de março de 2015



Sinto uma enorme vontade de escrever. Perdi, entre muitas navegações e naufrágios, o dom de redigir. Ando com um enorme medo do meio. Esses maremotos imprevisíveis que me rodeiam no centro. Entre meu lá e cá, sigo sozinho à canoa. Consigo progredir, mas daquele jeito. Ao leme meu macaco que ri. Ri de mim. Me aponta os oceanos e terras desconhecidas. Ri da minha cara porque não acho meu meio. Meu macaco é meu cá, o oceano o meu lá. Ambos são as tais ondas que bem conheço através de cartas náuticas e bussolas que me orientam. Mas meu meio não tem mapa, meu meio é o além mar. Não pousam feito as gaivotas que observo junto ao cais, antes de partir. Meu centro é tudo que desconheço e és o avesso de tudo que transita em meu peito. Meu meio é o breu. E quanto mais me aproximo, quanto mais tento toca-lo, mais escuro fica. Esses caminhos de nos encontrarmos, de adquirirmos absolutas certezas, são tão vazios quanto o meio que tento encontrar. Pois tão somente há limites e regras nesse meio, e todas as infelizes certezas. Exequíveis diagnósticos de vida estão lá.  Pobre do homem que tem o seu meio. Pois procuro o meu feito gaivota, só que não quero pousar. A morte é repouso. Pouso duplamente conferido e fim. Extinto. Somente quero pousar no fim. Onde não há nada mais além de um suspiro, um sorriso e o silêncio. Conheço muita gente que aí já está. Numa segurança tão plena feito a cova e toda sua fundura. Continuo a chorar com retratos, à brincar de barco e à assumir as perdas de mim. Meu meio é o fim. E no fim, ei de me achar ao meio.
(Leonardo (Sem meio) Schneider)