quinta-feira, 12 de março de 2015



Sinto uma enorme vontade de escrever. Perdi, entre muitas navegações e naufrágios, o dom de redigir. Ando com um enorme medo do meio. Esses maremotos imprevisíveis que me rodeiam no centro. Entre meu lá e cá, sigo sozinho à canoa. Consigo progredir, mas daquele jeito. Ao leme meu macaco que ri. Ri de mim. Me aponta os oceanos e terras desconhecidas. Ri da minha cara porque não acho meu meio. Meu macaco é meu cá, o oceano o meu lá. Ambos são as tais ondas que bem conheço através de cartas náuticas e bussolas que me orientam. Mas meu meio não tem mapa, meu meio é o além mar. Não pousam feito as gaivotas que observo junto ao cais, antes de partir. Meu centro é tudo que desconheço e és o avesso de tudo que transita em meu peito. Meu meio é o breu. E quanto mais me aproximo, quanto mais tento toca-lo, mais escuro fica. Esses caminhos de nos encontrarmos, de adquirirmos absolutas certezas, são tão vazios quanto o meio que tento encontrar. Pois tão somente há limites e regras nesse meio, e todas as infelizes certezas. Exequíveis diagnósticos de vida estão lá.  Pobre do homem que tem o seu meio. Pois procuro o meu feito gaivota, só que não quero pousar. A morte é repouso. Pouso duplamente conferido e fim. Extinto. Somente quero pousar no fim. Onde não há nada mais além de um suspiro, um sorriso e o silêncio. Conheço muita gente que aí já está. Numa segurança tão plena feito a cova e toda sua fundura. Continuo a chorar com retratos, à brincar de barco e à assumir as perdas de mim. Meu meio é o fim. E no fim, ei de me achar ao meio.
(Leonardo (Sem meio) Schneider)

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