Sinto uma enorme vontade de escrever. Perdi, entre muitas navegações
e naufrágios, o dom de redigir. Ando com um enorme medo do meio. Esses maremotos
imprevisíveis que me rodeiam no centro. Entre meu lá e cá, sigo sozinho à canoa.
Consigo progredir, mas daquele jeito. Ao leme meu macaco que ri. Ri de mim. Me
aponta os oceanos e terras desconhecidas. Ri da minha cara porque não acho meu
meio. Meu macaco é meu cá, o oceano o meu lá. Ambos são as tais ondas que bem
conheço através de cartas náuticas e bussolas que me orientam. Mas meu meio não tem
mapa, meu meio é o além mar. Não pousam feito as gaivotas que observo junto ao
cais, antes de partir. Meu centro é tudo que desconheço e és o avesso de tudo
que transita em meu peito. Meu meio é o breu. E quanto mais me aproximo, quanto
mais tento toca-lo, mais escuro fica. Esses caminhos de nos encontrarmos, de adquirirmos
absolutas certezas, são tão vazios quanto o meio que tento encontrar. Pois tão
somente há limites e regras nesse meio, e todas as infelizes certezas. Exequíveis
diagnósticos de vida estão lá. Pobre do
homem que tem o seu meio. Pois procuro o meu feito gaivota, só que não quero
pousar. A morte é repouso. Pouso duplamente conferido e fim. Extinto. Somente
quero pousar no fim. Onde não há nada mais além de um suspiro, um sorriso e o
silêncio. Conheço muita gente que aí já está. Numa segurança tão plena feito a
cova e toda sua fundura. Continuo a chorar com retratos, à brincar de barco e à
assumir as perdas de mim. Meu meio é o fim. E no fim, ei de me achar ao meio.
(Leonardo (Sem meio) Schneider)
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