sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Do desejo enrustido


Comecei o dia com uma baita neurose. Sei bem como isso me aflige e quão pouco são as horas. Seria bala xita explicar. Ninguém pode viver o outrem.  Ninguém entenderia as aflições e expectativas, o corpo reagindo conforme a cabeça. Fácil falar. Ou pior, ou melhor, vindo, problemas, intrigas, paixões e quereres. Sabe-se lá o que viria, mas sentia e ainda sinto. Depois de certos acontecimentos que permeiam entre as adocicadas experiências dos livros e a agressividade das vistas, falhei. Meus olhos malditos. Minha deficiência narcísica. Tudo muito bem escondido no oco, nas retinas minhas e suas. Somos espertos, sabemos. Eu sei. Errei e erro, persisto porque acabo gostando. E dá uma vontade danada. Em você também, percebo. Nem sei. Afogo-me. Por que vejo o que desejo ver e não o quero? Delicia de me lamber e me ferir ao mesmo tempo, pode ser.  Sonhos e satisfações bem quistos no fundo do côco. Vida safada que mexe comigo. Eu adoro, podes crer. Lamber-te, eu safado, num desejo que racionalmente não sonho, mas quero. Lambo, lambo e lambo. Esbaldo-me em seus líquidos. Não desisto desse adocicado mel de tuas coxas, sonho. Quando te vejo nem quero. És velhas demais pra ti mesma, mas queres. Queres-me, eu sei. Tudo isso é uma delícia. E eu gozo muito com isso. Esse seu jogo de desejo maduro, bem maduro. É difícil escolher entre o animalesco desejo que tenho e seus perfeitos olhos de entrega. Sei muito bem o que queres. Já me disse outrora em insanidades  desconcertantes. Azul, amarelo, meu pau e nós dois. Foi o que disse. Mas sei que queres que eu te chupe. Eu chupo. Muito. É o que quero. Transformaste em o que sempre quis, na maneira em que se me apresenta, num desejo louco de chuveiro. É o que eu imagino. Teu corpo e o chuveiro. Problema altamente freudiano. A idade sempre me revela o que é bom, desde o inicio. Já me arrependi do que era moral e imoral. Não tenho costumes, regras. Entreguei-me ao hospício. Mas tu não. Tu és certa demais para o recheio da bala. Preferes se esfregar em meu corpo. Preferes o oculto e mentiroso. Ainda assim gosto e deixo-me levar. Porque és tu. Porque és escondida demais para achar. Qualquer dia teu profano te entregas como gostaria, eu sei. Estarei lá, como sempre ocultamente desejaste. Distante e teso, na avenida.

(Leonardo Schneider)

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