quarta-feira, 5 de novembro de 2014


Passei a vista sobre a velha papelada amarelada que se instalou sob minha mesa. Tem dias que tudo cheira a mofo ou a naftalina. Tenho um universo interno bastante caótico, esqueço-me do tempo e tudo se esvai. Quando me dou conta, como hoje, reparo que acumulei uma porção de pequeninas coisas, numa tentativa de qualificá-las com certa especialidade. Papeizinhos daqui e dali, frases de banheiro ou de muro. Mas o que verdadeiramente enaltece-se nessa minha fala são esses malditos entraves que minha boca proporciona. O certo é que a coisa toda esta lá no fundo, chacoalhando, ricocheteando no peito. Mil palavras, um bilhão de pensamentos desconectados e nada a dizer. Estou de amores com o silêncio. É um relacionamento sério que criamos e estamos construindo. Cumplicidade. Mas estou prestes a por tudo a perder. Todas as manhas, quando me debruço sobre minha mesa e observo meus papeis amarelados, por sinal muito gostosos, com suas calças justinhas, não me sinto impelido a absolutamente nada. Eles ficam me atentando constantemente, fazem promessas de um relacionamento melhor, de um casamento mais colorido. Juro que não sinto desejo algum, não dou à mínima. Mas há um gravíssimo sujeito que me bambeia as pernas ultimamente. Taquicardiaticamente ele me assalta. Esqueço-me de tudo, das responsabilidades, das promessas e juras que fiz ao silêncio. E como um lobo em pele de cordeiro, fico a espreita, esperando o silêncio ir dormir. Até me deito ao seu lado. Finjo que durmo e constantemente o observo. Pronto pegou no sono. Corro com o peito multi colorido até a janela. Os papeis em vão tentam desviar-me do foco. Lá esta ele. Quanta alegria. O vento. Como me sinto à vontade contigo, meu novo amor. Prometo-lhe largar tudo pra trás. O silencio tem sido tão rude comigo, acho que ele já não me ama mais. Acho que anda me traindo com outras pessoas, e as reconheço quando saio por aí. Fico lá a observa-lo, ele roça meus lábios e afaga meu cabelo. Não sei mais o que faço. Ele é tão sincero e carinhoso comigo. Estou nesse embate. Se alguém puder me dar um conselho ou qualquer coisa, me diga urgentemente. Aqui fala um apaixonado que sofre e não tem mais nada à perder. Com todo amor da vida. Um beijo.

(Leonardo Schneider)

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