quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018


É sempre engraçado.
A gente fica irrequieto de vez em quando.
Salta, sai, vê meio mundo.
Dá risada, abraços, se embebeda de taças,
Das conversas preenchendo buracos,
Carinhos, afagos.
Volta, rodopia na cama.
Inventa uma porção de coisas
No travesseiro dos planos, do amanhã.
Reinventa.
No amanhã há o rio.
Que vai, apenas vamos.
E ninguém sabe ao certo se é margem ou centro,
Onde se agarrar.
Por fim,
Ah! Por fim tudo aquilo no peito.
O mar e o vento a chacoalhar a alma de uns.
A cama febril e redentora a sossegar os sonhos dos outros.

(Leonardo Schneider)

sábado, 17 de fevereiro de 2018


Hoje doeu mais que tudo,
Chorei,
Desisti.
Hoje meu corpo cedera,
Arrebentara no centro,
Numa abrupta envergadura,
O maior dos limites.
Hoje fora o pior dos piores.
A sombra, o adeus, o dia de cão.
Hoje fora teu corpo, meu corpo.
Estranhos, discretos,
Vazios e ecos ocos,
O universo as avessas no tempo,
Na mais pura verdade do não.
Fora hoje.

(Leonardo Schneider)



quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018


Vou caindo.
Juntando os minúsculos pedaços,
Feito cacos.
Espatifaria lançada ao mundo.
A cada instante, pedaço a pedaço,
Estilhaços,
Tudo é jogado.
Meu eu, tudo de mim.
E eu não sei se é o mar,
Se o ar.
Agarro-me.
Arranco os cabelos.
Tudo reside aqui
E se esvai entre os meus dedos.
Espalha-se.
A vida ávida abrange, ataca.
Seu tempo,
Tudo.
Nosso ir e vir,
Não estou só.
O que sinto,
Sinto por ti.

(L3on4rd0 5Cnh31d3r)


Ser ladrão.
O ladrão de outrora aguardava pacientemente.
Analisava, estudava o variante vacilar,
O trôpego passo,
O medo.
Eu não.
Sou ladrão assaltado.
Se sorrir,
Eu roubo,
Mato,
Morro.
O que pego eu deixo,
Eis minha marca.
Morro,
Mas roubo.
Assim me fiz,
Sempre na risca, no triz.
Deixo.
Se a campainha tocar,
Não serei eu.
Se a janela bater,
Não serei eu.
Sou explicitamente ridículo.
Pego, levo,
Amo e sofro.
Queimo, sofro,
Amo e deixo.

(Leonardo Schneider)

domingo, 4 de fevereiro de 2018


Achei uma foto nossa.
Grande.
Nem esperava pelo tamanho que era,
Mas achei.
Nela você me olhava cara a cara.
Um fino vão de tempo e vento separava nossos lábios.
Eu fitava seu nariz, sei lá.
Talvez tua fronte, tua boca.
Você fitava o que o diabo quisera.
Eu cruzava as pernas numa calça amarela,
New shoes.
Você de branco, roliças pernas expostas.
Eu amava.
Você também.
Aquela foto era preciso remexer pra achar.
Nada fácil,
O tempo escaramuçava.
Fundo de baú.
Juro não querer ter visto, mas vi.
Pura malícia.
Tinha escondido pra mentir.
Eu sei.
Mentir para mim.
Achar quando quisera.
A hora que quisera.
Deleite, fingir.
Fingir que você nunca esteve lá.
Mas não.
Voce reside aqui.
Eu eu me mato de escrever.
Voce veio com aquele tempo.
Hoje aquele fino vão entre bocas não existe.
Daquele jeito,
Somente no meu peito.

(Leonardo Schneider)