quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Molhada é nossa palavra. Eu queria tê-la inteira em minha boca aos bocados, pedaço à pedaço. Sentir o seu cheiro, lamber as suas partes. Deitá-la em meu corpo non grato. Feito animal arisco, encurralado, não consigo me desvencilhar. Passo horas escrevendo pra ninguém. Casos tão fúteis, pensamentos tão chulos. Tudo isso pra anular esse meu sentimento digno de psiquiatria. Foco nas plantas, carros, e gentes de todos os tipos. Busco arestas estranhas, meus cinzas curitibanos e rôo minhas unhas para não fumar. Mas você volta, felina úmida. Volta aos meus sonhos e desejos porão. Dança nua entre meus dentes e minhas palavras, eu quero a mordida bem dada. Não tenho medo, nossa festa é bem curta. A noite já vem. E quando fechos os olhos e chega o meu breu, você parte pra longe. Agarro-me ao travesseiro, escuto a lua e o bater da porta. Mas esquecestes pra trás o mel de seus olhos, seu cabelo crepusculo, sua pele dourada.

(Leonardo Schneider)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O jardim era tão bonito que "não" tive medo do inferno.


Queria escrever pra você. Tua ofegante e vulcânica escrita não me deixa mais escrever. Faltam-me pontos, vírgulas, parágrafos. Fico perdido entre o silêncio e o som. Retumba em minha alma feito repique marcado. Mas é óbvio que o que me falta, é o que tanto preciso. Espaços juncados, trançados entre os conceitos-chave. A dualidade entre o vazio e o preenchimento, o entra e sai, o silêncio existente entre os batimentos cardíacos. Gosto muito desse sincopado, dessa forma pulsante de ler, mas confesso que queria lhe escrever. Queria escrever um pequeno verso bonito, qualquer Haicai. Talvez um dístico, no máximo um tetrástico. Mas esse singular silêncio que antecede a palavra deixou-me findado em mim mesmo. Na verdade, instaurou-se em mim uma nova forma de querer escrever. Tento fugir, ir ali na esquina comprar uns cigarros. Não há mais jeito, fui violado por tua forma que tanto me agrada. Vou roubá-la pra mim, assim como levaste meu peito em palavras. Obrigado.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sem sentido.

Não sei ao certo o sentido correto.
Na verdade nunca saberei. Ninguém saberá.
O acaso com seu vadio descaso desfiguram toda rota.
Sem qualquer instrumento a gente se agarra no que dá.
Segue correntezas, ondas, ventos, estradas, amores, conselhos, ciências, etc.
Onde isso vai dar? Toda gente se pergunta.
Há algum simples lugar pra deitar o peito nu, aconchegar-se, sentir a brisa?
Esse meu próximo passo definirá toda minha existência?
Na verdade nunca saberei. Ninguém saberá.
Não há regras mecanicistas no universo, nem na casa vizinha.
Só o homem respira essa matemática.
Feliz o homem que não vê pragmatismos em tudo na vida,
Que não transforma ações em finalidades rasas,
Que simplesmente se impulsiona de dentro pra fora,
Feito um pequeno deus criando vida na vida.

(Leonardo Schneider)