Comecei o dia com uma baita neurose. Sei bem como isso me
aflige e quão pouco são as horas. Seria bala xita explicar. Ninguém pode viver
o outrem. Ninguém entenderia as aflições
e expectativas, o corpo reagindo conforme a cabeça. Fácil falar. Ou pior, ou
melhor, vindo, problemas, intrigas, paixões e quereres. Sabe-se lá o que viria,
mas sentia e ainda sinto. Depois de certos acontecimentos que permeiam entre as
adocicadas experiências dos livros e a agressividade das vistas, falhei. Meus
olhos malditos. Minha deficiência narcísica. Tudo muito bem escondido no oco, nas
retinas minhas e suas. Somos espertos, sabemos. Eu sei. Errei e erro, persisto
porque acabo gostando. E dá uma vontade danada. Em você também, percebo. Nem sei.
Afogo-me. Por que vejo o que desejo ver e não o quero? Delicia de me lamber e
me ferir ao mesmo tempo, pode ser. Sonhos e satisfações bem quistos no fundo do
côco. Vida safada que mexe comigo. Eu adoro, podes crer. Lamber-te, eu safado,
num desejo que racionalmente não sonho, mas quero. Lambo, lambo e lambo. Esbaldo-me
em seus líquidos. Não desisto desse adocicado mel de tuas coxas, sonho. Quando te
vejo nem quero. És velhas demais pra ti mesma, mas queres. Queres-me, eu sei.
Tudo isso é uma delícia. E eu gozo muito com isso. Esse seu jogo de desejo maduro,
bem maduro. É difícil escolher entre o animalesco desejo que tenho e seus perfeitos
olhos de entrega. Sei muito bem o que queres. Já me disse outrora em
insanidades desconcertantes. Azul,
amarelo, meu pau e nós dois. Foi o que disse. Mas sei que queres que eu te chupe.
Eu chupo. Muito. É o que quero. Transformaste em o que sempre quis, na maneira em
que se me apresenta, num desejo louco de chuveiro. É o que eu imagino. Teu
corpo e o chuveiro. Problema altamente freudiano. A idade sempre me revela o
que é bom, desde o inicio. Já me arrependi do que era moral e imoral. Não tenho
costumes, regras. Entreguei-me ao hospício. Mas tu não. Tu és certa demais para
o recheio da bala. Preferes se esfregar em meu corpo. Preferes o oculto e
mentiroso. Ainda assim gosto e deixo-me levar. Porque és tu. Porque és
escondida demais para achar. Qualquer dia teu profano te entregas como gostaria,
eu sei. Estarei lá, como sempre ocultamente desejaste. Distante e teso, na avenida.
(Leonardo Schneider)