sexta-feira, 16 de maio de 2014

Ela sempre me instigou a escrever com amor.

Pra tu, bonitinha.....estas sempre aqui dentro......saudade engole a gente!!!!!

A Fabrícia ficou de fora.
Fora da fábrica e de Fabrício.
Mas uma pequenina loja a contratou.
Agora ela trabalha feliz.
Vende falos e picas.
Que o amor com todo seu látex e desejos pervertidos
fabrica eu, tu Fabrício e Fabrícia.


(Leonardo Schneider)

João e Maria


Descobri teu sabor na velocidade de um assalto. Teu cheiro já sabia de cor, mas o gosto me era desconhecido. De tanto carregá-la na minha sacola, resolvi com ímpeto montanhesco expor-te. Fora uma situação um tanto embaraçosa, confesso. Porque expondo tu, acabei-me por exposição, como a bola na parede em retorno às mãos. Fui-me entregando em partes bem fatiadas, discorrendo variavelmente entre eu e as fúteis banalidades dos acontecimentos. Tive febre e estou de cama. Roço o lençol na esperança de tua pele, de teu gosto. Escrevo todos os insanos desejos à lápis, para que a cada realização eu possa, uma a uma, apagá-las. Meu corpo arde e me sinto fraco. Esse meu modus operandi entre copos e garrafas vazias me desmascara em cada curva, em cada esquina. E a cada entrega, uma fraqueza nas pernas. Mas contigo foi diferente, contigo foi e esta sendo febril. Meu desejo por tuas coxas, tua boca e teu húmus me elevam a temperaturas tropicais. Imaginar-te em minha pele, é imaginar-me em braseiro. Tudo vermelho, contorcendo. Gritos, gemidos, suor e dor. O amor tem dessas coisas. Têm certos tratos, certos jeitos. O amor, em certos casos, finda-se indiscutivelmente, quando nos damos conta que entramos ou saímos da vagina.

(Leonardo Schneider)

segunda-feira, 5 de maio de 2014


Te segurei pelos cabelos, ajoelhei aos teus pés implorando. Era pura cumplicidade e entrega. Mas estas oca. Oca de tudo. Não percebestes nada. Teu enfadonho olhar é só para os cinzas e teus cinzas. A flor que te levei, atirei na lixeira como gostaria que eu fizeste. Esta lá e todo dia olho pra ela. Ela apodrece aos pouquinhos, como tu e eu. Mas carrego buquês aos montes. Não me entrego aos papéis higiênicos. Não escrevo em muros chapiscados. Tua maldita pele se dissolve em mim feito caspas. O que não queres de mim? Responda! Ainda guardo teu guardanapo. Teus talheres entreguei ao primeiro mendigo. Ele pegou e riu. Uma risada de dar inveja. Nossa mesa posta esta para as traças, mas penso em você. Maldita! Por que duvidastes? Pensas demasiadamente em tuas rugas e cacos. Esquecestes que é via dos fracos, dos cansados, dos imbecis. Carregue teu drama pra lama. Mas não se esqueça que lá também nasce flor. Mas como sou meio capacho, irei na latrina buscar tua rosa. Vou colocá-la num vaso com água. Quem sabe ela brilha e te mostra que querer conhecer, também é amor.

(Leonardo Schneider)

De tempos em tempos, me acento como de costume (gosto de ficar sentado), num pequeno banco azul desses de madeira, instalado na sacada de meu apartamento. É um banco simples, pintado à mão num tom azul claro. Lá fico alguns minutos, mas por ser um ato repetitivo, obsessivo, pelo fato de conter um aditivo, um algo a mais (que não a repetição de estar sentado), uma satisfação carnal (estou sempre fumando), posso considerar que esses minutos já há muito se transformaram em horas. Gosto muito desse banco. Minhas vistas ficam sempre a focar as mesmas coisas da sacada, numa sequência repetitiva. Já é automático. Tudo começa assim: Abro a porta, o vento vem. Olho os dois bancos. Esqueci-me de me referir ao outro banco. Um legítimo Bubu, de Philippe Starck, que apesar da pomposidade, não é o de minha preferência. Me acento no banco ao lado, o azul. Como ia dizendo, ao abrir a porta o vento vem ao meu encontro e eu me acento. Primeiro foco são as roseiras que cultivo, plantadas num vão de parede, no parapeito, criado apenas para plantas (pode-se dar outro uso, mas vejo que são para plantas). Na sequência repetitiva, logo vem a imponente Arruda. Olho-a da base até o topo e num relampeio, por detrás dela, minhas cebolinhas plantadas num vaso retangular. Gasto uns segundos nesse olhar. Torno a cabeça para o outro lado e lá estão minhas pimenteiras e meus Agaves. Adoro Agaves. Sempre os comparei com gentes. Depois olho pra rua, o mesmo passeio e o mesmo velho que sobe a rua, no mesmo horário, com sua bengala num passo lento. Não o conheço, mas fico intrigado com seus horários (sempre os meus). Essa repetição, por incrível que pareça, é um método que criei. Um método que me faz pular a sacada. Vencer o parapeito para um voo além da vista. São sempre novos lugares. O passeio nunca repete o caminho. E volto. O cigarro acaba no cinzeiro, como eu na estação de casa. Todo dia. Abro a porta da sacada, tudo acabado. Malas na cama, corpo no chuveiro. Esse método é minha preparação para além do estômago. Fico a repetir nesse vai e vem intelectual. Alguns passeios são mais intensos dos que os outros. Fico eufórico, irritado. Principalmente quando não consigo descrevê-los. Hoje não consegui. Escrevi por ausência, por buraco. Isso esta se repetindo. Voltarei ao meu banco azul nesse fim de tarde, que sabe uma viagem traduzida em um belo texto?

(Leonardo Schneider)