Te segurei pelos cabelos, ajoelhei aos
teus pés implorando. Era pura cumplicidade e
entrega. Mas estas oca. Oca de tudo. Não percebestes nada. Teu enfadonho olhar
é só para os cinzas e teus cinzas. A flor que te levei, atirei na lixeira como
gostaria que eu fizeste. Esta lá e todo dia olho pra ela. Ela apodrece aos
pouquinhos, como tu e eu. Mas carrego buquês aos montes. Não me entrego aos
papéis higiênicos. Não escrevo em muros chapiscados. Tua maldita pele se
dissolve em mim feito caspas. O que não queres de mim? Responda! Ainda guardo
teu guardanapo. Teus talheres entreguei ao primeiro mendigo. Ele pegou e riu.
Uma risada de dar inveja. Nossa mesa posta esta para as traças, mas penso em
você. Maldita! Por que duvidastes? Pensas demasiadamente em tuas rugas e cacos.
Esquecestes que é via dos fracos, dos cansados, dos imbecis. Carregue teu drama
pra lama. Mas não se esqueça que lá também nasce flor. Mas como sou meio
capacho, irei na latrina buscar tua rosa. Vou colocá-la num vaso com água. Quem
sabe ela brilha e te mostra que querer conhecer, também é amor.
(Leonardo Schneider)
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