quinta-feira, 19 de abril de 2018


Gaivotas que não estão
Subterfúgio dessas minhas palmas postas
Esse vento maresia roçando
Esse teu amarelo biquíni
No meu apartamento
As ondas sentenciam
O coqueiro é espectro
Tem a sombra
A cocada o vão
Tenho sol mais que exposto
Queimando
Minha janela
Corpos vis
Nas espumas
Nas pegadas deixadas
Lavadas
Tenho o mar maior que um olho


(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 5 de abril de 2018


Adoro quando vem o total silêncio.
Quase mal consigo sussurrar palavras num texto.
É madrugada.
Não qualquer madrugada.
Tem um “quê” de seriedade na noite de hoje.
Hoje sendo amanha,
Ao mesmo tempo o agora enquanto escrevo
E meio termo entre o peso do mundo de ontem
Aventurando-se na esperança do que virá,
Sinto-me oníricamente ciente.
Atentamente sonâmbulo.
Apenas escrevo.
Trêmulo ao segurar a caneta,
Honesto em minha verdade.
Escrever é perder-se,
Sonhar.
Tenho medo de esquecer-me,
De apenas dormir.
Apenas dormir.

(Leonardo Schneider)

E tudo recomeça.
Na morte não.
Vivos nos vem os tais
Corpos maciços, rijos.
O tesão, húmido,
Em ti, em mim.
No mundo.
A somatória dos sexos.
Rodopio de uma vida.
Eixo de ti,
Um eterno círculo sobre si.
Um giz redesenhado.
Refeito no mundo,
Um passo.
Um
Mil.

(Leonardo Schneider)




quarta-feira, 4 de abril de 2018



Tem um dragão aqui dentro.
Ele deseja os mesmos anseios,
Velhos.
Futuca, refuça, fraciona-se.
Vomita silenciados trajetos, entulhos.
O fogo, azia, o fogo.
Seu corpo e alma são antagônicos.
É guerra, sendo medo.
Paz sendo açoite.
Longe vai com seus raros ovos,
Sem rota, nem pouso.
Machuca-se, eu sei.
Ele esta aqui.
Asa quebrada, bafo fumaça.
Ele é frágil de perto.
Chora no colo, silencia.
Sabe dos caminhos, das coisas.
Às vezes me tira o sono, alimenta-se de mim.
Joga-me acolá e aqui.
No não e no sim.
Escolhe camisas, as cores do dia.
As cuecas e calças.
Remexe meus armários,
Meus amores.
O dragão é tudo que eu tenho.
É o meu texto, minha boca.
O que restou desses anos.
Segue destruindo, aniquilando.
Rascunhando à caneta.
Já chorei muito por tudo isso.
Hoje entendo quão frágil é o dragão.
Hoje vejo e sinto o quão ele me é fiel e indispensável.

(Leonardo Schneider)