sexta-feira, 17 de junho de 2011

Baforar palavras.



Pois é, estava quietinho, me deliciando com um fumo sueco, ganhado de um grande amigo. Chegou de viagem logo dizendo: - Comprei o mais caro da loja!!. Aquele jeito dele, suave, mas ao mesmo tempo imperativo, forte, peito aberto. Não me importei nem um pouco com sua afirmação. Aliás, quando veio me visitar nada mais me importava a não ser sua presença. Mas foi um ótimo presente. Hoje no radio, não mais que de repente, enquanto dava minhas prazerosas baforadas, tocou "Chocolate Jesus" de Tom Waits. Me pareceu tudo muito favorável, aquela fumaça do cachimbo se misturando à sonoridade, uma simbiose perfeita. Os dois elementos bailavam, entrelaçados, ambos esvaiam na janela, extinguiam-se no ar. Obviamente me lembrei dele, das coisas que já lhe escrevi, das nossa ilusões diante a vida e nossas expectativas. Como ele me pediu, tão logo baforei palavras inspiradas pelo fumo:


Como é bom te ver, meu amigo.
Nesse mundo puto, nesse insólito segundo;
Ouvir sua voz
Às vezes trêmula, às vezes de algoz.
Também pequena, miúda.
Como eu gosto de te ver.
Meu fascínio desde menino.
Quem sabe até uterino?
Confesso que detesto o teu sumir único.
Tu que por certo me entende, parente.
Serpente do paraíso.
Me ofereceu a fruta, maldita, suculenta.
E eu quis a mordida, viva, carente.
Do jeito que só a gente entende.
Perdida, mal desejada, vivida.
Meu eterno amigo,
Como é bom te ter em meus braços.
Partida? Só na morte.
Não mais que feridas do eterno infinito.
O grito de dor, contido.
As lágrimas de uma reação química,
na cor, no gemido e no infinito.
Meu eterno amigo.



Leonardo Schneider

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Métron, meu caro! Eis o caminho......

Epicuro de Samos (341 - 270 a.C.) foi um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido em numerosos centros epicuristas que se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador.



Caros amigos, discutiremos um dos principais propósitos da filosofia de Epicuro: Atingir a felicidade. Mas de que forma isso é possivel?
Epicuro afirmava que o homem , a exemplo dos animais, buscavam afastar-se da dor e aproximar-se do prazer, norteando, de certa forma, o que é bom e o que é ruim. Uma teoria um pouco confundida com o hedonismo. Mas esse prazer que ele fala é um estado mais elevado, um controle sobre as emoções e a quietude da alma. Não se trata, portanto, do prazer imediato, como é desejado pelo homem vulgar; trata-se do prazer refletido, avaliado pela razão, escolhido prudentemente, sabiamente, filosoficamente. É mister dominar os prazeres, e não se deixar por eles dominar; ter a faculdade de gozar e não a necessidade de gozar. A filosofia toda está nesta função prática.  Verdade é que Epicuro mira os prazeres estéticos e intelectuais, como os mais altos prazeres.
Em que consiste, afinal, esse prazer imediato, refletido, racionado? Na satisfação de uma necessidade, na remoção do sofrimento, que nasce de exigências não satisfeitas. O verdadeiro prazer não é positivo, mas negativo, consistindo na ausência do sofrimento, na quietude, na apatia, na insensibilidade, no sono, e na morte. Mas precisamente ainda, Epicuro divide os desejos em naturais e necessários - por exemplo, o instinto da reprodução; não naturais e não necessários - por exemplo, a ambição. O sábio satisfaz os primeiros, quando for preciso, os quais exigem muito pouco e cessam apenas satisfeito; renuncia os segundos, porquanto acarretam fatalmente inquietação e agitação, perturbam a serenidade e a paz; mas ainda renuncia os terceiros, pelos mesmos motivos. Assim, a vida ideal do sábio, do filósofo, que aspira a liberdade e à paz como bens supremos, consistiria na renúncia de inúmeros desejos ; e, por conseguinte, em vigiar-se, no precaver-se contra as surpresas irracionais do sentimento, da emoção, da paixão. Não sofrer no corpo, satisfazendo suas necessidades essenciais, para estar tranqüilo; não ser perturbado no espírito, renunciando a todos os desejos possíveis, visto ser o desejo inimigo do sossego: eis as condições fundamentais da felicidade, que é precisamente liberdade e paz.
Em realidade, Epicuro, se ensina a renúncia, não tem a coragem de ensinar a renúncia aos prazeres positivos espirituais, estéticos e intelectuais, a amizade genial, que representa o ideal supremo na concepção grega da vida.
O mundo e a vida são um espetáculo: melhor, na verdade, é ser espectadores e atores, melhor é conhecer do que agir.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Uma piscadela sobre Belô





Hoje acordei diferente. Resolvi dar-me tempo (ócio. subst. grego=dar-se tempo. Antônimo de ócio=Negócio. Dar tempo à outrem.), deixar de lado as obrigações habituais, mas com uma certa malícia cotidiana. Daquelas que só a gente sabe, bem no fundinho, de quando pode e quando não pode dar-se esse luxo. Parti, sem muitas delongas, numa jornada que particularmente acho unica. Me camuflar entre os transeuntes. Mas, a meu ver, não era apenas me jogar na multidão belo-horinzotina, nem se esconder entre rostos atônitos e deflagrados pelo tempo. Era um momento de reflexão. Entre carros, ônibus, semáforos, passarelas e avenidas, encontrei um jeito de olhar a cidade com outros olhos. Obviamente, sai munido de uma câmera fotográfica bem carregada na tomada, emprestada, com a memória cheia de fotos que em nada me identificavam. Pois bem, o que mais me importava naquele instante mágico ( sem exageros ) era o fitar e fitar-se sem hora, nem lugar, nem medida. As arestas da cidade me empolgavam (como cachorros que saem pra passear depois de uma semana trancafiados no apartamento), seu colorido cinzento, suas janelas, seu ruído pulsante. Aos poucos descobri como é interessante essa jornada, sem partida, nem chegada. A maquina em punho, o olhar reto, constante, com a certeza impressa na lente. " Amo essa cidade."