sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Escrevo no meu quarto. Deve ser a milésima vez que repito. Eu, meu vasto vazio, meu silêncio. Mas as palavras saltam, bailam. É festa onde não fui convidado. Preciso organizar de penetra, o peito e a voz. Elas vieram sem ter salgadinhos. Não tem bebidas estocadas no armário para que eu possa servi-las. Terei de ser um tenaz anfitrião. Preparar patês de ultima hora e ver o que tem na geladeira. Restos. Preciso, amiúde, de quaisquer efeitos que façam ficá-las. Elas chegarão a qualquer momento. Nesses últimos tempos é coisa tão rara, essas palavras guardadas. São tantas pessoas, frases, sorrisos, rostos, palavras para desembucharem. Estou ansioso, roendo unhas, frio na barriga, um gole de água. Elas estão pra chegar. Fico da sacada olhando. A campainha toca. Deus! É a hora. Abro a porta e ninguém esta lá. Mas elas chegaram. Estou cordialmente convidando para que entrem, os malditos patês estão sobre a mesa. Elas se entreolham, questionando. Não! Não vão embora! Juro que buscarei cerveja na padaria. Não! Fiquem pelo amor de Deus. Que se fodam essas malditas palavras! Sempre vem prometendo ficar. Nos 7 pecados capitais, a mentira foi a única esquecida. Elas irão voltar. Dá próxima vez estarei bem preparado. Cerveja, patês e salgados. Elas terão de ficar.


Leonardo Schneider