terça-feira, 22 de maio de 2012

Razão cibernética


Meu cérebro eletrônico precisa de back up,
Limpezas no disco rígido.
Apagar as inutilidades guardadas sem carinho.
Todos os textos e as imagens sem sentido,
Uma breve formatação do que fui acumulando sozinho.
Preciso de um anti-vírus pra dias chuvosos,
Evitar toda gripe contida nos links,
Ter atenção para os sites, os spams e os spywares.
Atentar-me e resguardar-me de sujeitos nocivos.
Meu cérebro eletrônico precisa ser limpo,
Bem acomodado e não exposto muito ao sol.
Lugares arejados, livres das antigas poeiras,
Livre de tudo que pode ou poderá 
Comprometer o meu sistema operacional.
Meu cérebro eletrônico é tudo o que tenho
É o que me mantem vivo.
É a parte que separa na lixeira
Todo esse joio do trigo.

(Leonardo Schneider)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O buraco do mundo






Findo-me aqui no buraco do mundo.
No silêncio do escuro tateio as paredes,
sujo minhas mãos com ignorâncias.
Não há nada além do vazio, frio, sordidez.
No buraco do mundo esta todo o absurdo
que carrego feito cruz.
Minha lamaçal condição.
Minha simianista certeza.

(Leonardo Schneider)



domingo, 20 de maio de 2012

Autorização


Permite que sua imagem seja usada? Permito. Que sua voz seja ouvida? Permite que seus pensamentos se transformem em palavras? Que seu pau entre no corpo dela, dessa daí, permite? Permite que ela solte gemidos estridentes por causa disso? Permite a asma noturna? Que paguem dinheiro por seu trabalho? Permite a coruja? Que toquem tua pele? A água salgada nos olhos? Permito, permito. Permite que a luz inche tua pupila, que a bexiga se esvazie, permite uma expressão de alívio nessa hora, permite? Permite não saber por que, nem quando, nem onde, apenas que, apenas quê? Permite que com certeza, com certeza, que a luz se apague mas tão distante, permite que a todos os que conhece e ama e admire aconteça exatamente o mesmo? Permito. Permite debaixo da terra? Permito. Permite a decomposição? Permito. Permite uma pergunta, uma única pergunta? Permite aqui, permite quando? Permite essa merda? Uma esmola? Uma segunda chance? Um cigarro? Uma moeda? Permite que te julguem, dando nota? Permite que nunca? Permite o cachorro ganindo? Permite ouvir dizer, ouvir falar, cuspir na cara, gozar na boca, uma risada? Permite? Permito. Tem minha permissão para isso tudo. Que o sábio te explique, o poeta te metrifique, o cansaço te encha de sono? Permite uma rua? Permite a montanha? A ratazana? Permite o lajedo? Essa lua? Permito, permito. 


(Nuno Ramos)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Prelúdio de mim mesmo I

Num silêncio, o que carregamos são montanhas.
Desde que nascemos.
Desde o princípio dos tempos.

(Leonardo Schneider)

Pensamento

Pensamento vem de dentro,
Vem de fora,
Vem com o vento.
Pensamento que não quero.
Por que pensas, tão somente, desse jeito?
Pensamento saia logo,
Vá embora como veio.
Pensamento que anoitece,
Por que insistes em pensar, obsessivo pensamento?

(Leonardo Schneider)

Nós





Difícil falar.
Eu e você somos o tudo e o nada,
Ou qualquer coisa que tarda,
Qualquer coisa que mede.
O simples limiar entre tudo que se encerra,
Tudo que basta,
Tudo que falta.
Somos a fome e o jantar.
Somos o ápice da festa.
O chute no tempo,
A palavra contida,
O amor reprimido, doído.
Somos a vida.
O aqui e o agora,
O infinito da História.
Somos o elo perdido,
Almejado, buscado.
mas se quiseres o que tenho no lado esquerdo, meu bem.
Terá que fazer passo à passo,
Como sempre tem feito.
Do meu sorriso, um abraço.
Do seu amor,
O máximo dos máximos.


(Leonardo Schneider)