domingo, 20 de maio de 2012

Autorização


Permite que sua imagem seja usada? Permito. Que sua voz seja ouvida? Permite que seus pensamentos se transformem em palavras? Que seu pau entre no corpo dela, dessa daí, permite? Permite que ela solte gemidos estridentes por causa disso? Permite a asma noturna? Que paguem dinheiro por seu trabalho? Permite a coruja? Que toquem tua pele? A água salgada nos olhos? Permito, permito. Permite que a luz inche tua pupila, que a bexiga se esvazie, permite uma expressão de alívio nessa hora, permite? Permite não saber por que, nem quando, nem onde, apenas que, apenas quê? Permite que com certeza, com certeza, que a luz se apague mas tão distante, permite que a todos os que conhece e ama e admire aconteça exatamente o mesmo? Permito. Permite debaixo da terra? Permito. Permite a decomposição? Permito. Permite uma pergunta, uma única pergunta? Permite aqui, permite quando? Permite essa merda? Uma esmola? Uma segunda chance? Um cigarro? Uma moeda? Permite que te julguem, dando nota? Permite que nunca? Permite o cachorro ganindo? Permite ouvir dizer, ouvir falar, cuspir na cara, gozar na boca, uma risada? Permite? Permito. Tem minha permissão para isso tudo. Que o sábio te explique, o poeta te metrifique, o cansaço te encha de sono? Permite uma rua? Permite a montanha? A ratazana? Permite o lajedo? Essa lua? Permito, permito. 


(Nuno Ramos)

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