quinta-feira, 2 de julho de 2020


Rebater, esperniar pra que?
Voce sabia e viu.
Tinha lido todas estantes.
Seu caminho entortou, não reparas-te?
Os livros rasgara, as cartas, os rascunhos de guardanapos.
Rasgara tudo que era, cada minuscula anotação.
Tudo que movia em teu mundo, esquecera.
Onde andas?
Tens rasgado universos?
E pena das tuas fajutas penas, tens?
Te observo daqui.
És um dragão enjaulado,
No sentido zoo.
E se perdes, se machuca, se atrofia.
Daqui jogo as pipocas, já te alertei.
Quiça sera jogo, quiça sera espécime.
No fundo não me importa, 
No fundo és nada perante mim,
Sinto muito por ti.
(Leonardo Schneider)

sábado, 27 de junho de 2020


Descobri num relâmpago que a gente sente, sofre e voa.
Eu era pequeno.
Descobri, desde menino, que a gente chora, machuca o joelho e balança.
Que a gente vai.
Há esse sentimento, esse balançar de ir e vir.
A gente dói e ri,
Na gangorra.
Que essa vida balança, sem controle.
E nessas pequenas coisas residem universos,
Encaixam lembranças, acontecimentos.
E cada cadinho de nós mesmos é uma baita seriedade.
A gente ama os cadinhos, a gente aperta até não poder mais.
Abraça o mais forte que pode.
São nossas vidas, nossos detalhes.
Cada qual tem o seu, mas tem.
E eu fico feliz e sigo rasgando textos, devorando papeis.
Sigo com estrelas no peito daqui,
Ao redigir o que sinto.
A tentar entender o teu e o meu mundo.

(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 25 de junho de 2020


Talvez.
Talvez eu tenha desejado um troféu,
Talvez eu tenha gerado uma expectativa,
Talvez um turbilhão de acontecimentos,
Talvez.
Um segundo no pote,
Um traço num beijo,
A casa toda montada, num arremate,
Talvez.
Vivenciando essas todas tais possibilidades,
Talvez, sequer questionasse.
Mas esse dito cujo do “tal” e do “vez”
São palavras unidas, em greves e passeatas.
Se ao menos houver tal, que tem vez,
Estarei a ouvir.
Da minha janela, empoeirada.
Daqui a observar, a vez.
E os tais de todas as questões.
Talvez.


(Leonardo Schneider)

quinta-feira, 2 de abril de 2020


E se eu dissesse que não há mais expectativas?
E se fosse eu a sair de perto?
Não ligo muito pra essas tolices.
O que fora, fora.
Pronto acabou.
Mas de certa maneira, houve um fim em mim.
Desconjuro quaisquer tentativas.
Não sou desses de espaço de tempo,
Desses que esperam.
Daqui, sinto muito.
Sinto dor pelo vento que me vem na porta da frente.
Juro, são problemáticas bem infantis,
É o tempo.
Mas queira ou não, o mundo também me vem.
E o passado fica feito uma tela,
Guardada e cada vez mais esquecida.
Sei bem como é o tempo e suas avalanches.
Estarás aqui, de um modo bem estranho,
Mas estarás.
Guardando um segredo teu e meu, que vai se empoeirando.
No resto, a saudade que rapidamente passa em quaisquer boas noitadas.
Aquelas tardes, passarão.
Aquela solidão doerá, mas aprenderemos a lidar.
Sobrará apenas tuas malícias, teus engodos
e a certeza, de que de fato, tinhas razão.
Vai passar.

(Leonardo Schneider)