sexta-feira, 17 de junho de 2011

Baforar palavras.



Pois é, estava quietinho, me deliciando com um fumo sueco, ganhado de um grande amigo. Chegou de viagem logo dizendo: - Comprei o mais caro da loja!!. Aquele jeito dele, suave, mas ao mesmo tempo imperativo, forte, peito aberto. Não me importei nem um pouco com sua afirmação. Aliás, quando veio me visitar nada mais me importava a não ser sua presença. Mas foi um ótimo presente. Hoje no radio, não mais que de repente, enquanto dava minhas prazerosas baforadas, tocou "Chocolate Jesus" de Tom Waits. Me pareceu tudo muito favorável, aquela fumaça do cachimbo se misturando à sonoridade, uma simbiose perfeita. Os dois elementos bailavam, entrelaçados, ambos esvaiam na janela, extinguiam-se no ar. Obviamente me lembrei dele, das coisas que já lhe escrevi, das nossa ilusões diante a vida e nossas expectativas. Como ele me pediu, tão logo baforei palavras inspiradas pelo fumo:


Como é bom te ver, meu amigo.
Nesse mundo puto, nesse insólito segundo;
Ouvir sua voz
Às vezes trêmula, às vezes de algoz.
Também pequena, miúda.
Como eu gosto de te ver.
Meu fascínio desde menino.
Quem sabe até uterino?
Confesso que detesto o teu sumir único.
Tu que por certo me entende, parente.
Serpente do paraíso.
Me ofereceu a fruta, maldita, suculenta.
E eu quis a mordida, viva, carente.
Do jeito que só a gente entende.
Perdida, mal desejada, vivida.
Meu eterno amigo,
Como é bom te ter em meus braços.
Partida? Só na morte.
Não mais que feridas do eterno infinito.
O grito de dor, contido.
As lágrimas de uma reação química,
na cor, no gemido e no infinito.
Meu eterno amigo.



Leonardo Schneider

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