terça-feira, 10 de junho de 2014


Ela era vulgar. Puta mesmo. Exibicionismos baratos em palcos que cheiram a mofo. Gostava disso e não sabia agir diferente. Uns drinks a mais e logo se revelava. Certa vez me contara algumas de suas estripulias. Não havia perdão, nem ao menos culpa em sua pele. Ela era diferente. Sabia como adentrar nos inúmeros ambientes. Da esbórnia ao palacete. Sabia o que se passava na cabeça dos homens e se deleitava. Ela era uma mentira bem contada e sabia disso. Mas certo dia me interpelou:

-Me conte o que é o amor.

Sabia o que era, mas não sabia explicar. E eu que jamais esperava tal interlocução, fui pego desprevenido. Queria lhe falar. Queria lhe mostrar o que era, mas fiquei estático. As palavras saíam feito grunhidos. Fiquei nervoso. Mãos suadas. A maldita me acertara o calcanhar. Pobre coitada. Profissional no verbo amar, mas ignorante no substantivo amor. Ela aguardou alguns instantes, com os olhos fixados em meus joelhos.

-Ninguém sabe o que é. Mas mentir todos sabem.

Pensei muito a respeito do que dissera. Dei um gole no bico da garrafa. A garganta se fechara. Tomei ar.

-Roseletta, a vida não é tão ruim assim.

Uma gargalhada ecoou no ambiente. Era um riso sarcástico, animalesco. Bem distinto dos que riem com dor na alma. Eu sem graça nada pude fazer, a não ser, aguardar. Fiquei lá esperando seu show de falsos contorcionismos, a mão na barriga. Dei outro gole.

-Já acabou Roseletta?

Ela logo me olhou num tom sério, apertando os olhos como se fosse me devorar. Tinha certos tiques na sobrancelha direita quando ficava nervosa. Acendeu outro cigarro e baforou em minha cara. Cruzou as pernas com sua minissaia marrom, se posicionou de maneira ereta, feito quando as pessoas querem parecer ou dizer alguma coisa séria.

-Das minhas presas, você é a mais doce.

Aquilo soou como ofensa. Doce? O que ela pensava que eu era? Um menino frágil, de fácil manipulação? Ela não me conhecia bem. Cresci com a rudeza dos dias, o gris das horas. Ela era uma vagabunda sem amor. Quis mostrar valentia, mas logo me afagou os cabelos. Tombei de joelhos.

-Roseletta? Vamos embora pra outro bar?


De lá saímos. Eu sem saber o que sou. Ela, sem saber o que é o amor.

(Leonardo Schneider)

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