sexta-feira, 1 de julho de 2022

 

Esse papel fica a me fitar.

Ele sempre me olha de longe, me incita.

Ele é meu demônio particular,

Ele é meu desestabilizador completo.

Ele é meu oceano, minhas estrelas.

São segredos fugidos do que vejo.

Há tempos não quero mais vê-lo.

Como qualquer vicio sério dos que dizem por aí,

Fico a fugir.

Talvez não tenha jeito,

Talvez.

Tenho mais medo de escrever do que viver.

Porque viver é menos atroz, menos denso.

Escrever é cravar a alma nos acontecimentos.

Detesto ter que me empalhar e a taxidermia me enjoa.

Tenho me sentido um tanto torto.

Não caibo em lugar algum e amo a vida.

Onde vou digo: Tô bem e legal.

Nem sei quais são essas palavras, nem quais são os significados disso.

Significado, signo.

Tô sem um.

Tô sem nada.

Apenas o texto que me chama e mantem o fogo aceso,

Porque papel queima e é pura combustão.

Assim como eu nesse instante.

(Leonardo Schneider)

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