quarta-feira, 3 de agosto de 2022

 

No relógio,

No pulsar,

Na voz de minha mãe,

No dia que insiste em nascer,

No sorriso de meu filho,

No mal humor de todo amor e nos deliciosos afagos de minha mulher,

Nas covas bochechudas de minhas sobrinhas,

Na presença sol de meu afilhado.

Nas grandes questões de João,

No dedo em riste de minha irmã,

No abraço pedido, carinhoso e singelo, dos que vejo na rua.

Tudo me é sério.

Nem lasca, nem trisco me passam desapercebido.

Tenho dor dos olhos.

Tenho dor da alma e nada disso parece bom.

Porque a cada sílaba a gente sente que perde um pouquinho,

Um pouco de tempo,

Um pouco de vida,

Um pouco de lágrimas,

Um pouco dessas coisas todas que nos fazem escrever.

Perdoem-me por perder em demasia.

Tenho alma de poeta.

 

(Leonardo Schneider)

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