quarta-feira, 31 de janeiro de 2018


Comer papel é ato digno.
Quando não dá,
Quando tudo quanto pensas e escreves é autofágico,
Eu juro,
Eu como.
Um dia quis comer o mundo.
Quis comer o que brotava nas cabeças e nas vistas.
Quis comer o que mexia e não mexia.
O que estava vivo ou sem vida.
O que era multicolor ou cinza,
Quis comer.
Aí veio o amor.
O devorar contínuo uniforme.
E ainda hoje nem sei se é certo ou estúpido
Essa coisa da boca.
Não toco nesse assunto, nunca.
E se me encontrares na rua, não fale sobre isso.
Porque comer pensamentos e olhares é coisa muito séria.
A gente quase não dorme direito.
E escreve cedo, de tarde ou de madrugada.
Rasga papéis, faz bolinhas, amontoa o lixo.
Come o que vem de fora.
Principalmente o que vem de dentro.

(Leonardo Schneider)

Nenhum comentário:

Postar um comentário