Ceci
será seu nome daqui pra frente, daqui pra trás. Nunca em momento algum havia
lhe dado nome. E Ceci é um belo nome. Ceci não é diminutivo de Cecília. É
apenas Ceci. E Ceci se afastou de mim já faz algum tempo, como eu me afastei de
meu lápis. Escrevia-lhe sempre que dava. Jogava-me por inteiro num papel em
branco, com a esperança de que ela, com toda sua dureza, talvez por infortunos
que a vida dá, pudesse ao menos ler e se sensibilizar, amolecer. E Ceci
amolecia. Eu escrevia. Quantas e quantas noites escrevendo, buscando cores, me
entregando à Ceci. Ela com carinho e aspereza, me entregava seu corpo úmido,
sua boca e seus olhos. O peito não. Talvez por medo, receio, não importa. Ceci
se entregava do jeito que dava. Quando nos encontrávamos não havia palavras. Escrevíamos
nosso amor nas paredes de banheiros, no corpo e eu tinha um medo danado. Ela
abriu-me por inteiro, fez morada, cozinhou e arrumou nossa cama, mas partiu na
primeira corrente de vento, desses que dobram as esquinas. Nenhum pertence deixara para que eu pudesse
guardar. Sofri sem textos, sem papel ou caneta. Sei bem de sua escolha, suas
metas. Deixara apenas uma carta sincera, mesmo que doída. Com os seguintes
dizeres:
-Nunca
se esqueça de mim, meu querido. Fui-me embora para que morra poeta.
(Leonardo Schneider)
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