quinta-feira, 16 de janeiro de 2014


Ceci será seu nome daqui pra frente, daqui pra trás. Nunca em momento algum havia lhe dado nome. E Ceci é um belo nome. Ceci não é diminutivo de Cecília. É apenas Ceci. E Ceci se afastou de mim já faz algum tempo, como eu me afastei de meu lápis. Escrevia-lhe sempre que dava. Jogava-me por inteiro num papel em branco, com a esperança de que ela, com toda sua dureza, talvez por infortunos que a vida dá, pudesse ao menos ler e se sensibilizar, amolecer. E Ceci amolecia. Eu escrevia. Quantas e quantas noites escrevendo, buscando cores, me entregando à Ceci. Ela com carinho e aspereza, me entregava seu corpo úmido, sua boca e seus olhos. O peito não. Talvez por medo, receio, não importa. Ceci se entregava do jeito que dava. Quando nos encontrávamos não havia palavras. Escrevíamos nosso amor nas paredes de banheiros, no corpo e eu tinha um medo danado. Ela abriu-me por inteiro, fez morada, cozinhou e arrumou nossa cama, mas partiu na primeira corrente de vento, desses que dobram as esquinas.  Nenhum pertence deixara para que eu pudesse guardar. Sofri sem textos, sem papel ou caneta. Sei bem de sua escolha, suas metas. Deixara apenas uma carta sincera, mesmo que doída. Com os seguintes dizeres:

-Nunca se esqueça de mim, meu querido. Fui-me embora para que morra poeta.
 
(Leonardo Schneider)

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