terça-feira, 18 de dezembro de 2012



Ela veio sem rastro, nem cheiro. Nunca a esperei. Sempre fora conceito, um emaranhado de fajutas conexões. Mas como é de meu feitio, abri-lhe os meus braços-peito. Sem muita modéstia a acolhi em minha casa, trouxe-a logo pra dentro. Ela me alertou de sua epiderme cascuda, quase impenetrável. Disse-me que não tinha traquejo no quesito explanar-se. Não me importei. Tentei alguns verbos de aproximação, qualquer palavra lubrificante. De início mostrei-lhe a janela dos fundos, as portas de acesso, caso quisesse partir.  Atitude que sinceramente não faria a menor diferença. Por intuição acendi a lareira, dar um tom de aconchego, mostrar-lhe certo respeito e admiração. Preparei nossa cama, travesseiros macios, lençóis limpos, tudo para que ficasse. Não sei o por quê da investida, nunca me deram guarida, nem pedaço de pão. A mão sempre foi mais pesada pra quem só tem sim em seus vocabulários. Descobri o sabor de seu corpo na rapidez dos encontros. A avidez de minha língua a brincar sem pudor, nem regra. Sagaz imanetismo. Viciei-me em sua cor, em sua imprevisibilidade. Seus olhos me fitavam em silêncio, toda minha articulação era observada. Ela posicionada no corner do texto, maliciosa no riso. É no negro vazio do silêncio que a gente percebe os detalhes da vida.


(Leonardo Schneider)

Nenhum comentário:

Postar um comentário